Blair critica Corbyn e avisa: ou o Labour se renova ou nunca mais volta ao poder

O ex-primeiro-ministro britânico analisou o resultado eleitoral dos trabalhistas, o pior desde 1935. Alegou que Jeremy Corbyn transformou o partido num "movimento de protesto glorificado".
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O ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair, que conseguiu o melhor resultado de sempre para o Labour, apelou aos moderados do partido para voltarem a assumir o controlo, alegando que o "socialismo quase-revolucionário" de Jeremy Corbyn falhou.

Após o pior resultado do Labour desde 1935, Corbyn assumiu a responsabilidade e pediu um período de reflexão antes da eleição de um novo líder. A batalha é agora entre os seus apoiantes, da extrema-esquerda, que não parecem disponíveis para deixar o poder.

"O assumir do controlo da extrema-esquerda transformou o Partido Trabalhista num movimento de protesto glorificado com aparatos de culto, totalmente incapaz de ser um governo credível", disse Blair, que ganhou três eleições e foi primeiro-ministro durante uma década, de 1997 a 2007. "O resultado encheu-nos de vergonha", acrescentou num discurso numa conferência do Instituto para a Mudança Global.

O Labour de Corbyn conquistou apenas 203 lugares no Parlamento, menos 59 que nas eleições de 2017, tendo visto a sua percentagem de votos cair 7,8 pontos para os 32,2%. Os conservadores de Boris Johnson elegeram 365 deputados, mais 47 do que tinham, tendo tido 43,6% dos votos.

Blair disse que muitos não apostariam contra uma década de poder conservador, dado o estado do Labour, e que a não ser que o partido mude de caminho enfrenta a ameaça de nunca mais voltar ao poder.

"A única opção para o Labour é renovar-se como um adversário sério, progressista e não conservador na luta pelo poder na política britânica ou afastar-se de tal ambição. Nesse caso, com o tempo será substituído", disse Blair.

O ex-primeiro-ministro criticou Corbyn por liderar o Labour para uma derrota com um conjunto de ideias que não interessavam aos eleitores. "Ele personificou politicamente uma ideia, uma marca de um socialismo quase-revolucionário, misturando uma política económica de extrema-esquerda com uma profunda hostilidade para com a política externa ocidental", afirmou.

"Isto nunca apelou aos eleitores tradicionais do Labour, nem nunca vai apelar, representando para eles uma combinação de ideologia equivocada e inaptidão terminal que eles consideram um insulto", disse Blair.

"É essencialmente um grito de raiva contra o sistema. Não é um programa de governo. Para ganhar poder precisamos de autodisciplina, não de autoindulgência", acrescentou.

Blair criticou ainda a posição de Corbyn e do partido em relação ao Brexit. "Seguimos um caminho de quase indecisão cómica, alienando ambos os lados do debate e deixando os nossos eleitores sem orientação ou liderança", indicou.

"A ausência de liderança no que era obviamente a maior questão que enfrentava o país reforçou todas as outras dúvidas sobre Jeremy Corbyn", acrescentou.

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