Seis meses antes da queda do BES, a maior empresa financeira do mundo tornou-se a terceira maior acionista do banco. A BlackRock chegou a deter 5% da instituição e dias depois da medida de resolução conseguiu vender as ações que detinha e que valeriam zero. A operação é descrita na edição de hoje do Público..De acordo com o jornal, nem o Banco de Portugal (BdP) nem a ministra das Finanças foram informados e a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) não tinha de saber. Certo é que a BlackRock conseguiu vender as ações do BES quando o banco estava sob medida de resolução, decidida pelo BdP, a 3 de agosto de 2014..Ao Público, a antiga responsável pela pasta das Finanças, Maria Luís Albuquerque, refere que em agosto de 2014 - mês em que foi anunciada a venda - as ações teriam "um valor próximo do zero" no mercado.."Um negócio estranho", assumiu a antiga ministra ao jornal..Questionado pela publicação, o BdP assegurou que o negócio não tinha de ser comunicado ao regulador: "As transações de ações de instituições de crédito que não resultem na alteração da propriedade de uma participação qualificada não têm de ser reportadas ao Banco de Portugal"..A 14 de agosto de 2014, através de um comunicado do banco, foi revelada a informação de que a BlackRock tinha vendido 4,65% das ações do BES. Segundo o Público, a alienação resultou de "uma transação executada fora do balcão"..Não se sabe a quem e por quanto a empresa financeira norte-americana vendeu as ações. A BlackRock optou por não esclarecer o jornal sobre esta operação..Contactado pelo Público, o jurista Nuno Garoupa refere que este negócio pode significar "uma enorme falha regulatória". "Que ninguém do BdP, CMVM ou antiga ministra saiba com quem e por quanto foi o negócio não é grave, mas sim triste. Porque espelha o fracasso da regulação", considera..Além das ações, revela o jornal, a BlackRock também era dona de 254,1 milhões de euros de dívida, distribuídos por cinco linhas de obrigações seniores. Esta dívida passou para o "banco mau" em 2015, o que originou um processo de litígio entre o Governo e a maior empresa financeira do mundo.