Berardo escreveu a Santos Ferreira para pedir crédito de 350 milhões

O empresário madeirense defendeu que a CGD lhe foi bater à porta para lhe dar crédito. Antigo diretor do banco desmente essa afirmação.
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Quis ajudar os bancos e foram estes que lhe foram bater à porta para dar crédito. Esta foi a tese defendida por José Berardo quando respondeu à questão dos deputados a 10 de maio na II comissão de inquérito à gestão da Caixa Geral de Depósitos. O "interlocutor" no banco público, segundo o empresário, era José Cabral dos Santos.

O antigo diretor de grandes empresas da CGD foi chamado uma segunda vez ao Parlamento para explicar os detalhes desses empréstimos. E, desta vez, veio munido de informação para desmentir o antigo acionista do BCP. "Berardo referiu o meu nome mas encontrei no arquivo da CGD numa carta de 10 de novembro de 2006 da Fundação Berardo, assinada por José Berardo, e dirigida a Carlos Santos Ferreira. O assunto: concessão de uma linha de crédito" de 350 milhões de euros para comprar ações do BCP.

Cabral dos Santos defendeu ontem que este "elemento" prova que, contrariamente ao defendido por Berardo, a Caixa tenha ido bater à porta do empresário madeirense. A missiva enviada ao então presidente do banco público chegaria às mãos do então diretor de grandes empresas um mês depois, através de um outro administrador, António Maldonado Gonelha. O ex-diretor da CGD reconheceu que nunca houve um crédito dessa dimensão concedido a uma IPSS e que ninguém questionou esse facto.

Crédito para pagar BCP

Os emails a comunicar à Fundação Berardo a autorização do crédito foram enviados por Cabral dos Santos. Mas o antigo diretor diz que a responsabilidade foi dos administradores que estavam sentados nos conselhos alargados de crédito em que essa operação teve luz verde. "Se fosse administrador da CGD quando uma operação fosse aprovada diria que a responsabilidade era minha", afirmou.

Além do empréstimo à Fundação Berardo, a CGD tinha concedido antes 50 milhões à Metalgest, uma empresa de Berardo. Nesse caso, Cabral dos Santos disse que foi feita uma proposta inicial de crédito de cinco milhões para "aumentar a relação comercial" com a empresa. Essa oferta da CGD foi rejeitada. Mas a Metalgest acabaria mais tarde por pedir 50 milhões com rácios de cobertura de 100%, bem mais arriscados que a oferta inicial. Esse crédito seria concedido em 2006 e ajudou Berardo a pagar um outro financiamento que tinha pedido no BCP para comprar ações desse banco.

A Fundação Berardo e a Metalgest são das entidades que mais prejuízos causaram à Caixa. No final de 2015, segundo uma auditoria preliminar da EY, o banco tinha reconhecido mais de 150 milhões em perdas nos financiamentos a Berardo.

Banco de Portugal podia ter alertado, diz Faria de Oliveira

Além de Cabral dos Santos, os deputados voltaram ontem a ouvir Faria de Oliveira, que tinha sido presidente executivo da CGD entre janeiro de 2008 e julho de 2011. O antigo responsável disse que o Banco de Portugal poderia ter avisado do risco que estava a incorrer ao emprestar a Berardo.

Numa entrevista ao DN/TSF este fim-de-semana, Vítor Constâncio defendeu que o banco público tinha ferramentas para executar o contrato. No entanto, Faria de Oliveira considera que essa opção acarretaria um "risco sistémico significativo", dado que levaria a uma desvalorização adicional das ações do BCP numa altura de crise nos mercados e na economia.

Rui Barroso é jornalista do Dinheiro Vivo

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