Menos de um ano depois de chegar ao poder à frente de uma coligação histórica com partidos da esquerda, do centro e da direita, além de uma formação árabe, o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, perdeu a maioria no Knesset com a saída surpresa de uma deputada do seu próprio partido. Idit Silman, do Yamina, que era a líder da coligação no Parlamento israelita, alegou que não vai continuar a facilitar "os danos à identidade judaica do Estado de Israel e do povo de Israel", defendendo a formação de um governo de direita. A sua decisão, elogiada pelo ex-primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, deixa o governo com os mesmos 60 deputados da oposição e Bennett por um fio..Em junho do ano passado, apesar da vitória eleitoral do Likud e do Yamina só ter conseguido eleger sete deputados, Bennett chegou a acordo com Yair Lapid, do centrista Yesh Atid (que foi segundo), para formar um governo e pôr fim a 12 anos de mandatos consecutivos de Netanyahu. Ao abrigo do acordo, que incluía outros seis partidos, Lapid seria chefe da diplomacia durante a primeira metade do mandato, trocando com Bennett em 2023. Esses planos ficam agora em risco com a saída de Silman, não estando fora de hipótese o regresso de Netanyahu ao poder..A decisão da deputada do Yamina surgiu depois de, na segunda-feira, ter criticado o ministro da Saúde, Nitzan Horowitz, por ter dado instruções aos hospitais para permitirem nas suas instalações pão levedado durante a Páscoa judaica - ao abrigo de uma decisão do Supremo Tribunal que reverteu anos de proibição. A sua saída surge por uma questão de convicção religiosa. "Temos de admitir que tentámos. É hora de recalcular e tentar formar um governo nacional, judaico, sionista", acrescentou Silman num comunicado..Bennett não reagiu de imediato, mas a decisão foi aplaudida por Netanyahu. "Idit, és prova de que o que te guia é a preocupação pela identidade judaica de Israel, a preocupação pela terra de Israel e dou-te as boas-vindas ao campo nacionalista", disse num vídeo, apelando a outros que sigam o seu exemplo. "Serão recebidos com todas as honras e de braços abertos", acrescentou..A saída da deputada do Yamina, que deixa o partido só com cinco deputados (um outro já tinha saído, rejeitando aprovar a coligação), não implica a queda do governo - até porque o plenário do Knesset está de férias até 8 de maio. Segundo o jornal The Jerusalem Post há quatro cenários possíveis. O primeiro passa por outros deputados seguirem o exemplo de Silman e acabarem por votar para dissolver o Parlamento e convocar novas eleições - Lapid seria chefe do governo até lá. O segundo cenário passa por o líder da aliança Azul e Branca e atual ministro da Defesa, Benny Gantz, abandonar o governo e voltar a aliar-se a Netanyahu para se tornar primeiro-ministro. O terceiro é o regresso do próprio Netanyahu, que conseguiria formar um novo governo com o atual Knesset sem necessidade de voltar a eleições - mas ele não tem os 61 votos necessários. O último cenário é Bennett conseguir continuar no poder até ao início de 2023, altura em que terá de aprovar o novo orçamento..susana.f.salvador@dn.pt