O Governo Federal da Bélgica alcançou na manhã desta quinta-feira um acordo para um plano de saída da energia nuclear. Ficou decidido que o encerramento dos velhos reatores ainda em funcionamento nas duas centrais do país, e o compromisso para que seja modernizada a produção de energia partir de fontes nucleares, com a atribuição de uma verba de 100 milhões de euros..O plano do governo belga prevê 100 milhões para investigação da "energia nuclear do futuro"..O montante será canalizado para a investigação com vista a modernizar a produção de energia nuclear. O plano que esteve em discussão prevê o encerramento dos sete reatores nucleares das duas centrais do país em 2025.."Chegou-se a um acordo em que a segurança é central", anunciou o governo, apontando a necessidade de assegurar a produção de energia, tendo em conta "a incerteza" sobre o projeto da central termo-elétrica a gás, de Vilvoorde, na periferia de Bruxelas, escolhida para dar resposta ao pós-nuclear. Mas o Ministro Flamengo do Ambiente rejeitou o seu licenciamento..Está prevista uma nova lei da energia, cujo objetivo "continua a ser a neutralidade em 2050", assegurou o governo..As centrais nucleares na Bélgica, tal como noutros países, tornaram-se o centro da discussão, depois do desastre de Fukushima, mas também pelo histórico de anomalias registadas pela agência Federal de controlo da Energia atómica..O governo federal anunciou que "a segurança" é a base central do acordo alcançado no final de uma madrugada de negociações, embora o prazo de funcionamento dos reatores, seja esticado além dos 40 anos de vida útil..Na Central de Doel, a norte de Antuérpia, três dos reatores em funcionamento desde 1975 deveriam ter sido encerrados em 2015, mas o governo autorizou o funcionamento 10 anos para lá do limite de segurança para o qual foram desenhados. O mesmo acontece na central de Thiange a sudeste Bruxelas, onde um dos três reactores atingiu o limite de 40 anos em 2015..De acordo com dados da Agência Federal de Controle Nuclear (AFCN), em 2020 foram registadas seis "anomalias" nucleares na Bélgica, sem registo de riscos para a saúde e segurança dos trabalhadores, da população ou do ambiente. As ocorrências foram registadas com o nível 1, o mais baixo de uma escala de 7 níveis, em que o mais elevado corresponde a um "acidente grave"..Três das anomalias ocorreram no reator 2 da central de Tihange, relacionadas com operação errónea durante um teste de um sistema de bombeamento, em que uma válvula foi fechada sem autorização. O reator acabou por ficar temporariamente encerrado em novembro de 2020 para manutenção..No reator 4, da central de Doel, num teste realizado em 6 de junho de 2020, o limite de tempo para fecho de uma série de válvulas de isolamento da linha de vapor principal foi ultrapassado..Dois dias depois, também na central de Doel, verificaram-se anomalias nos reatores 1 e 2 com as mesmas válvulas de teste de uma câmara de descompressão, que permaneciam anormalmente abertas..Em 2019, também foram registadas cinco anomalias (nível 1). Já em 2018, o número de anomalias chegou a 13. Em 2017, a Bélgica registou um "incidente" (nível 2), com um pacote radioativo mal protegido num voo de passageiros, entre o Cairo e Bruxelas via Zurique..Em 2018, alegando tratar-se de uma medida preventiva do programa de prevenção do risco nuclear, o governo belga generalizou a distribuição gratuita de iodo à população, através das farmácias. O iodo é usado para evitar o cancro da tiroide, no caso de um acidente radioativo..Depois de vários países europeus se oporem à ideia de incluir o nuclear no pacote europeu de energia limpa, há um plano B que continua em cima da mesa, para o qual também contribui a escalada dos preços da energia produzida a partir de combustíveis fósseis..No próximo mês a agência federal de controlo nuclear vai apresentar um relatório sobre uma nova possibilidade de prolongar o funcionamento dos reatores para além do novo prazo estabelecido legalmente.