Em causa está a autorização dada pelo vereador da Proteção Civil da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Ângelo Pereira (PSD), que, segundo noticiou o jornal Expresso, permitiu "uma exceção" à regra de "proibição do acesso, circulação e permanência no interior dos espaços florestais", decretada pelo Governo no âmbito da situação de alerta de incêndios, que vigorou entre 18 e 21 de julho..Essa "exceção" possibilitou a realização de uma festa "Deejay Kamala 360", no dia 20 de julho, no espaço A Pateira, no Instituto Superior de Agronomia, na Tapada da Ajuda, junto ao Parque Florestal de Monsanto, na sequência de um "pedido de exceção" feito pelo artista e empresário DJ Kamala, por 'email', no início da madrugada desse mesmo dia, nem uma hora depois da publicação do despacho do Governo, na noite de 19 de julho, a prorrogar a situação de alerta até 21 de julho..Num esclarecimento por escrito enviado à comunicação social depois da publicação da notícia do Expresso, o gabinete do vereador Ângelo Pereira refere que "o evento em causa não dependia da autorização da Câmara Municipal de Lisboa", indicando que neste caso em concreto - a festa no dia 20 de julho - foi solicitado aos serviços da autarquia uma avaliação dos riscos para a realização da iniciativa, "um requisito essencial para a realização do mesmo por parte do detentor do espaço [Instituto Superior de Agronomia]"..De acordo com o Expresso, apesar de o pedido ter sido enviado já depois da meia-noite, o promotor da festa obteve resposta "cerca de 20 minutos depois", com uma responsável da autarquia a pedir aos diretores municipais uma "análise urgente", o que culminou, pelas 13:00 desse mesmo dia, 20 de julho, com o vereador Ângelo Pereira a assinar um breve 'e-mail': "Concordo com o proposto e autorizo"..Na sequência desta notícia, a vereadora do BE, Beatriz Gomes Dias, e os dois eleitos do PCP na Câmara de Lisboa, João Ferreira e Ana Jara, exigiriam hoje, através de requerimentos, esclarecimentos por parte de Carlos Moedas sobre a autorização ao "pedido de exceção" do promotor da festa, inclusive se tinha conhecimento da decisão do vereador Ângelo Pereira..A Lusa pediu um esclarecimento ao gabinete do presidente da Câmara de Lisboa, aguardando ainda uma resposta..O BE considera "muito grave" a autorização dada pelo vereador Ângelo Pereira, "em tempo recorde", para a realização de uma festa no Parque Florestal de Monsanto durante a situação de alerta de incêndios, considerando que tal "é chocante" por ter acontecido "com o país a braços com violentos incêndios florestais" e por a câmara municipal ter "posto em risco" este espaço florestal, ignorando o despacho decretado pelo Governo..Para o Bloco, o vereador da Proteção Civil "não cumpriu com o necessário dever de responsabilidade as suas competências", por isso é preciso "saber se Carlos Moedas considera que o vereador mantém condições para se manter no executivo"..Os vereadores do PCP defendem que "é necessário que seja clarificada a razão que justificou, perante uma situação de alerta, a realização deste evento", uma vez que uma das restrições previstas era a "proibição do acesso, circulação e permanência no interior dos espaços florestais, previamente definidos nos planos municipais de defesa da floresta contra incêndios", em que se inclui nesta definição a Tapada da Ajuda.."Importa esclarecer em que termos foi feita esta autorização, ainda mais quando a própria CML, dias antes, tinha tomado a iniciativa de condicionar o acesso ao Parque Florestal do Monsanto e cancelando vários eventos públicos ou privados na totalidade dos espaços florestais, onde se incluía a Tapada da Ajuda", refere a vereação do PCP, em comunicado, pedindo informação sobre quantos eventos foram cancelados e autorizados durante o período em que vigoraram os despacho de declaração de situação de contingência e, depois, de situação de alerta no âmbito do risco de incêndios..O esclarecimento prestado pelo gabinete do vereador Ângelo Pereira indica ainda que a emissão de parecer para a realização do evento foi precedida de uma visita conjunta entre o Instituto Superior de Agronomia (titular do espaço), a organização do evento e dos serviços municipais ao espaço, referindo que "a informação dos Serviços Municipais da Proteção Civil sobre as condições meteorológicas da cidade de Lisboa e as previsões meteorológicas do IPMA [Instituto Português do Mar e da Atmosfera] de temperatura e humidade relativa do ar, determinaram a não existência de risco elevado de incêndio rural".