O Bloco de Esquerda acusa o vereador do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa, Manuel Salgado, de contribuir "para expulsar moradores do centro da cidade" com as alterações propostas pelo autarca ao Plano de Urbanização da Avenida da Liberdade e Zona Envolvente (PUALZE) e pede que este projeto seja reprovado pela Assembleia Municipal da capital..De acordo com o documento a que o DN teve acesso, o vereador Manuel Salgado - que também detém os pelouros do Planeamento, Património e Obras Municipais - "levou em julho passado uma proposta a reunião de câmara para a desafetação de fim de utilidade pública de oito imóveis classificados na zona da Avenida da Liberdade"..Na opinião dos bloquistas, a desafetação destes edifícios vai contribuir para "um projeto de cidade em que apenas importam o turismo e a habitação de luxo" e que Salgado o fez "por sua iniciativa e em conformidade com a sua visão de cidade"..O grupo municipal do BE acrescenta que "pela zona da cidade onde estão situados e por estarem bloqueados a equipamentos de uso público, podiam servir e fixar a população de Lisboa, nomeadamente com a construção de creches, escolas, equipamentos de saúde, numa zona que concentra muito emprego e, portanto, muitas pessoas"..O BE considera ainda que "a alteração do PUALZE aumenta a especulação imobiliária numa zona da cidade onde os preços de habitação estão proibitivos e contribui para expulsar moradores do centro da cidade"..Uma alteração que não tem "qualquer obrigatoriedade ou fundamento legal para o fazer" e que coloca "os interesses privados acima do interesse público" e por isso o grupo municipal pede que a proposta seja reprovada pela Assembleia Municipal de Lisboa (AML)..O documento também refere que a presidente da AML, Helena Roseta, "solicitou recentemente informações ao vereador sobre as mais-valias criadas por esta operação urbanística mas face ao silêncio do arquiteto Manuel Salgado torna-se necessário estimar o valor criado" pela desafetação dos edifícios..E foi isso que o Bloco fez, utilizando como exemplo o edifício dos CTT, vendido há dois anos por 25 milhões de euros para uso de habitação e que sofreu um aumento do "valor de mercado para os 78,5 milhões de euros".."Utilizando o método de avaliação semelhante ao das consultoras imobiliárias e tendo em conta o valor por metro quadrado médio na freguesia de cada um dos imóveis, a mais-valia potencial da alteração do PUALZE ascenderá a mais de 134,8 milhões de euros", conclui o comunicado..O deputado municipal do BE Ricardo Moreira afirma que esta desafetação coloca em causa o interesse público para a cidade: "Há uma criação de valor muito grande para os proprietários e há uma perda de parte do interesse público muito grande.".O bloquista reforça a ideia de que deveria haver um reaproveitamento dos edifícios, contrariamente à desafetação proposta por Salgado.."Os CTT saem, mas vamos fazer um centro de saúde, isso tudo era possível, mas a partir do momento em que perdermos os imóveis para a habitação já não o podemos fazer. E não é para resolver o problema de habitação da cidade, é para habitação de luxo ou hotéis", remata..Questionada pelo DN, a Câmara Municipal de Lisboa explica em comunicado "os edifícios em causa são maioritariamente particulares e deixaram de cumprir a função de uso público", acrescentando que um dos imóveis era, por exemplo "um cinema e, como é do conhecimento público, há vários anos que não há qualquer cinema no centro da cidade e os que há são em superfícies comerciais".."O uso dos edifícios mudou e, para não ficarem devolutos e ao abandono, a CML tem de alterar o seu uso", informa a nota enviada..A autarquia da capital garante ainda que "os serviços municipais de planeamento nos estudos que fizeram no âmbito do Plano da Avenida concluíram que não há necessidades de equipamentos públicos, como escolas ou creches numa zona, de resto, de baixa densidade populacional" e lembra que há "ali bem perto, por exemplo, um quartel do Regimento de Sapadores Bombeiros (RSB) de Lisboa".