Bateu Matou: um supertrio de baterias para dançar
É a estreia ideal, para um grupo diferente e cujos membros têm ainda alguma dificuldade em explicar. Afinal, se há festival de portas abertas para projetos, digamos, mais alternativos, o Jameson Urban Routes é um deles. Criado pelo Musicbox em 2006, fez história ao ser o primeiro festival organizado por um clube em Lisboa, assumindo-se desde logo como um dos principais barómetros, em Portugal, das novas tendências da música urbana, abraçando, sem qualquer tipo de preconceitos, os mais variados espectros sonoros. "Também ainda estamos assim um bocadinho às cegas", afirma com algum humor Quim Albergaria no final de mais um ensaio dos Bateu Matou, um trio de baterias que se apresenta pela primeira vez ao vivo neste festival.
Mais conhecido por ser uma das baterias siamesas dos Paus, foi ele o principal mentor deste projeto, que junta três dos mais talentosos bateristas da música urbana nacional: ele próprio, Ivo Costa (Batida) e Riot (Buraka Som Sistema). "Conversámos no início do ano e a ideia era só tocarmos juntos, para ver como saía. Tenho de confessar que existiu algum egoísmo da minha parte, quando lhes falei nisso, porque também queria muito aprender com eles", confessa Quim Albergaria. A "empatia pessoal" que já sentiam uns pelos outros, transformou-se assim "em química", mal puseram o pé na sala de ensaios. "Temos usado muito a expressão tropeçar, porque tanto eu como o Quim tropeçámos muito um no outro nos últimos tempos. Falámos algumas vezes em fazer algo juntos e houve um dia em que o Quim me mandou uma mensagem, a sugerir que fizéssemos uma espécie de orquestra de baile só com baterias. E eu disse que sim", lembra Ivo Costa. Já a presença de Riot é explicada como "um amor antigo", pelos outros dois membros do grupo.
"Não queríamos ser apenas uns tipos a fazer barulho e o primeiro ensaio foi fundamental, para percebermos até onde podíamos ir. Funcionou logo muito bem", sublinha Ivo. Nesses primeiros encontros, perceberem no entanto que o trabalho teria de ser feito ao contrário. Ou seja, antes de compor e ensaiar, era necessário ir para estúdio, "preparar algumas guias sonoras para reger um futuro formato concerto", como explica Quim Albergaria, que idealizou os Bateu Matou como "uma banda que pensa como um DJ", no sentido de ser "capaz de fazer sets contínuos", utilizando os hábitos de dança de hoje em dia. "Penso sempre nisto como uma banda de clube à antiga, que fazia sets para as pessoas dançarem", analisa. Riot pega na deixa do parceiro, para lembrar as grandes orquestras dos anos 40 e 50: "as pessoas estavam lá para dançar e não para ver se eles tocavam bem ou mal. Mais tarde, tudo isso foi substituído pelo DJ, que ocupou o lugar dessas dezenas de pessoas. E hoje o Quim teve vontade de dar novamente a volta isso, fazendo-o com uma cara lisboeta e não propriamente com o swing ou a bossanova do passado".
Apesar de serem só três, fazem "um barulho do caraças", garante Riot. "Tivemos o cuidado de escolher peças diferentes para cada um, o que faz com que soemos quase como uma bateria gigante, tocada por um baterista com seis braços". Para o antigo membro dos Buraka, o desafio mais interessante deste projeto é mesmo o de "pôr as pessoas dançar sem estar a tocar cds. Isto pode ser muito divertido para nós e para o público", conclui. A prova dos nove é já no sábado, na última noite do Jameson Urban Routes, onde irão ainda passar nomes como os portugueses You Can"t Win Charlie Brown e Xinobi, os americanos Black Lips ou os canadianos Austra.