Barreiras Duarte saiu, mas Rio pode ter novo problema

Com esta demissão, o presidente do PSD tem de propor nome para o cargo ao Conselho Nacional, mas não tem maioria neste órgão
Publicado a
Atualizado a

Depois de uma semana sob fogo, primeiro por causa do currículo académico, depois pelas ajudas de custo que recebeu enquanto deputado, Feliciano Barreiras Duarte apresentou na tarde de ontem a demissão do cargo de secretário-geral do PSD. O pedido foi aceite de imediato por Rui Rio, que estava já à espera que Barreiras Duarte tomasse a iniciativa de sair pelo próprio pé.

A demissão resolve um problema a Rui Rio, mas as questões em torno da secretaria-geral do partido podem não ter acabado por aqui. O presidente social-democrata tem agora de convocar o Conselho Nacional (CN) e propor um novo nome a este órgão. Problema: Rio não tem maioria no CN. A lista conjunta de Rio e Santana Lopes, os dois candidatos na recente corrida à liderança do partido, obteve 34 em 70 lugares - e nem mesmo estes votos estão totalmente garantidos, dando incluírem vários partidários de Santana.

Fontes sociais-democratas antecipam que o desfecho da votação dependerá muito do nome que Rio levar ao Conselho Nacional. Em cima da mesa do presidente do PSD estarão nomes como Pedro Alves (deputado e presidente da distrital de Viseu), Adão Silva (atual vice-presidente da bancada parlamentar) ou Maló de Abreu, vogal da Comissão Política - e um dos nomes da direção que criticou publicamente os deputados que se insurgiram contra a forma como decorreu a eleição do novo líder parlamentar do partido.

Demissão "irrevogável"

Nos últimos dias, a própria direção do PSD deu claros sinais de que Barreiras Duarte não tinha outra alternativa que não a demissão. Segundo um dirigente social-democrata ao DN, Rio estaria limitado na sua capacidade de ação, havendo dúvidas sobre se pode demitir o secretário-geral - os estatutos do PSD são omissos. Mas o cenário da saída de Barreiras Duarte acabou por se concretizar na tarde de ontem.

O ex-secretário de Estado deixa o cargo refutando as acusações de ter adulterado o seu currículo académico e de ter beneficiado de ajudas de custo a que não teria direito. E argumentando que os "ataques" - de uma "violência inusitada" - de que tem sido alvo, são na verdade dirigidos ao líder do partido e à sua direção. Um argumento que ficou expresso no comunicado de dez pontos em que anunciou a demissão e que reiterou, em entrevista à TSF, apontando para dentro do próprio PSD. "Vendo o que aconteceu na última semana, é fácil perceber que são ataques de pessoas que no congresso deram nota de que gostariam que Rui Rio tivesse dificuldades", afirmou Feliciano Barreiras Duarte, que se escusou a precisar nomes para evitar "dar origem a outro tipo de polémicas". Mas foi dizendo que os nomes "são por demais evidentes" - "Sabemos quem são as pessoas". O ex-secretário de Estado disse ainda saber de "outro tipo de situações de que já se fala em relação a outras pessoas do PSD".

No comunicado emitido ontem, Feliciano Barreiras Duarte diz ter avançado com um "pedido irrevogável de demissão" e garante que sai de "consciência tranquila". "Não tirei qualquer proveito da Universidade de Berkeley - nem financeiro, nem de grau académico, nem profissional, nem político; não procurei qualquer benefício material ou outro, antes pelo contrário, com a questão da morada no Parlamento", sustenta, afirmando que aguardará agora "serenamente" os resultados do inquérito anunciado na passada semana pela Procuradoria-Geral da República. Barreiras Duarte, que continuará no parlamento, diz também que vai pedir ao presidente da Assembleia da República "uma clarificação total sobre as regras dos benefícios e ajudas de custo aos deputados".

Um mês depois do congresso que elegeu a direção social-democrata, Feliciano Barreiras Duarte é a primeira baixa no núcleo duro de Rui Rio. Mas está longe de ser a primeira polémica, que atingiu antes dois vice-presidentes - Elina Fraga e Salvador Malheiro.

Rio "não está a perceber"

Ontem, no habitual comentário na SIC, Marques Mendes considerou "inqualificável" todo o processo em torno de Barreiras Duarte. O comentador e ex-líder do PSD responsabilizou em primeiro lugar o ex-secretário geral - "falsificou, aldrabou o seu currículo". Mas também o presidente do partido, considerando "estranho" que Rio tenha demorado a agir. "Fica a sensação que ou que tinha medo ou que estava condicionado", afirmou, acrescentando que Rio "não está a perceber algumas coisas importantes". "Está-se a deixar queimar em lume brando", disse ainda Marques Mendes.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt