"Banana" lidera as vendas dos livros de Natal

Há muitos anos que José Rodrigues dos Santos não marcava falta no topo da tabela de vendas. Este ano a concorrência derrubou-o e Jeff Kinney com o seu herói tomou o lugar. A qualquer momento E.L. James irá ocupá-lo.
Publicado a
Atualizado a

O livro que mais tem vendido nas vésperas deste Natal em Portugal é 12º volume da série de Jeff Kinney, O Diário de um Banana - Põe-te a Milhas!, o maior herói dos jovens leitores portugueses dos últimos anos. Tanto assim que o autor já foi obrigado a visitar o nosso país mais do que uma vez nas suas tournées promocionais porque a coleção de vários Bananas ultrapassou o total de um milhão de exemplares impressos em língua portuguesa.

Portugal não é um caso isolado, apenas um dos principais a contribuir para o sucesso do herói criado por Jeff Kinney. Afinal o autor norte-americano está publicado em 63 países e 53 línguas e este novo livro lançado há apenas um mês já vendeu mais de um milhão e meio de exemplares em todo o mundo. A soma é impressionante: 194 milhões em dez anos.

O mais surpreendente, e que poderá ajudar a compreender o fenómeno Banana, é que o volume 12 aumentou em 15% relativamente ao anterior, de 2016, nos Estados Unidos. Em Portugal, a subida foi maior, superior a 40%, o que explica em muito estar à frente de todos os restantes livros que querem escalar as tabelas de vendas nas livrarias e espaços das grandes superfícies.

Qual o segredo do Banana? O autor já se questionou e revelou recentemente uma provável explicação: "Eu achava que estes livros eram sobre os miúdos americanos, mas parece que vai além deste país e que também os mais velhos encontram um paralelo com a sua juventude. Acho que o Banana acaba por refletir uma experiência de vida universal."

Se o Banana ganha nas tabelas de vendas nacionais, quem está a perder esta expedição em busca dos primeiros lugares é José Rodrigues dos Santos, o mais habitual frequentador dos últimos anos. O seu mais recente livro, lançado em novembro, Sinal de Vida, está em quinto no top da cadeia de livrarias Bertrand e em sétimo nas lojas FNAC. Uma das razões para esta diminuição de lugar deverá ser o facto de o autor ter decidido publicar dois romances em apenas dois meses - mais de mil páginas no total. Uma estratégia que nesta época de boom de compras de livros dividiu os seus muitos fãs, daí que o volume final da Trilogia do Lótus, O Reino do Meio, esteja lá muito para o fundo das listas dos mais vendidos.

Surpreendente é também ver que os leitores portugueses estão adeptos de leituras científicas, pois A Estranha Ordem das Coisas, de António Damásio, está entre os três livros mais vendidos. E o tema é bastante complexo: a inteligência humana, a linguagem e os sentimentos...

Mais compreensível é a subida fulgurante até aos primeiros lugares da última semana dos mais vendidos da autora E.L. James e o segundo volume da nova saga 50 Sombras de Grey, desta vez intitulado Mais Negro. Ou seja, mais do mesmo: sexo e soft-porno para a Noite de Natal.

Como não podia deixar de ser, o regresso de Dan Brown com o thriller Origem veio para conquistar e, desde que o autor veio a Lisboa lançar este livro, que as vendas são sempre a subir. A história é a de sempre, em que o protagonista Robert Langdon acaba por salvar o mundo, desta vez ao saber segredos que destruiriam a humanidade conforme ela se conhece.

Quando Isabel Allende publica um novo livro um bom lugar nas tabelas é sempre garantido, principalmente se for na época do Natal. É o caso de Para lá do Inverno, que parte de uma frase de Albert Camus para explicar a atualidade da América. Uma outra autora do género a aparecer nas listas é Sveva Casati Modgnani com O Regresso da Primavera.

Outra saga que se mantém a vender muitos álbuns é o da dupla gaulesa na sua nova aventura, Astérix e a Transitálica, a melhor história da nova dupla de autores que substituiu Goscinny e Uderzo.

Entre os portugueses, há poucos mais a chegar ao topo. Reaccionário com Dois Cês de Ricardo Araújo Pereira é dos poucos a conseguir esse feito, repetindo mais ou menos a mesma fórmula que no Natal passado o tornou um dos autores com maiores vendas.

Já o terceiro volume da Bíblia, traduzida por Frederico Lourenço, perdeu o fôlego graças à concorrência de histórias mais modernas. É o caso da mais recente História de Portugal, a de Diogo Freitas do Amaral: Da Lusitânia a Portugal - Dois mil anos de História. Ou do mais recente livro de José Tolentino Mendonça, O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas, onde reflete sobre as grandes questões da Humanidade.

A grande surpresa nestas listas de Natal é o aparecimento do mais recente romance de António Lobo Antunes, Até que as Pedras se Tornem Mais Leves que a Água, que ao contrário dos últimos livros teve uma segunda edição poucas semanas após o lançamento. Além do seu registo habitual, a razão deste sucesso terá a ver com o regresso ao tema literário que o tornou conhecido, o da Guerra colonial.

Entre os autores portugueses, o destaque vai ainda para o novo livro de Afonso Cruz, Jalan Jalan, um livro que fixa o escritor definitivamente.

Por último, vamos a outros números. É que as listas dos mais vendidos nas livrarias tradicionais e nas grandes superfícies já não se assemelham em quantidade ao volume de exemplares que se verificava antes da crise ter afetado Portugal. Razões? Questionados sobre o que faz os portugueses lerem menos atualmente e provocar uma quebra no volume de negócios no mundo editorial, alguns editores confirmaram ao DN que os tempos de antes da crise não devem voltar tão cedo. Explicam que o comportamento dos livros se mantém igual aos natais anteriores, ou seja, vende-se de tudo mas são poucos os títulos que conseguem distinguir-se uns dos outros. A principal conclusão dos responsáveis editoriais é que os leitores não voltaram a comprar tantos livros porque estão a perder o hábito de ler, em muito devido ao tempo dedicado às novas tecnologias

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt