Um filme de animação para celebrar toda a miríade da cultura dos povos do sul da Ásia. Raya e o Último Dragão é uma celebração da magia de Laos, Vietname, Tailândia e Malásia concentrados, um espetáculo de cinema para dar visibilidade cultural a uma região tantas vezes esquecida..Desta vez, a fábula centra-se em Kumandra, terra de dragões baseada na mitologia do Sudeste Asiático, um território onde uma força do mal faz que os dragões sejam extintos por forma a preservar a vida dos humanos. Mas uma pequena guerreira chamada Raya consegue dar vida a um dragão fêmea chamada Sisu. Juntas vão tentar restaurar a união dos povos divididos e afastar o feitiço que petrificou os dragões mágicos, mas para tal é preciso confiar. Raya diz: "O mundo está despedaçado. Não se pode confiar em ninguém!" Sisu responde: "Talvez esteja despedaçado porque tu não confias em ninguém." Na verdade, esta aposta da Walt Disney é sobre confiança e o poder da amizade no feminino..Curiosamente, chega numa altura em que ainda se vive os ecos de Mulan, a versão em imagem real do clássico de animação, outra história de emancipação feminina com perspetiva oriental, já para não falar de Para além da Lua, animação eficaz da Netflix que imagina as aventuras de uma menina órfã de mãe na Lua. Mas Raya e o Último Dragão funciona por apostar num ritmo desenfreado de cinema de aventuras, prescindindo de sentimentalismos cliché e de canções de embalar. A isso junta-se alguma complexidade na construção das personagens, em que ninguém é tão heroico como se pensa, e uma construção visual na qual os jogos cromáticos são de uma sofisticação inovadora..No fim de semana passado os criadores e os atores americanos de origem asiática que dão a voz à versão original (disponível na Disney + Premium) juntaram-se para o primeiro encontro promocional para a imprensa internacional, e o DN teve convite exclusivo. Um encontro em que alguns dos atores, cada um em sua casa, trouxeram as suas figuras em miniatura e apresentaram o seu melhor sorriso, mesmo tendo em conta a hora bem matinal de Los Angeles, local onde a maior parte estava..Acima de tudo, percebeu-se que graças à pandemia, e não só (cada vez mais os estúdios de animação preferem juntar artistas de todo o mundo à distância para ganhar diversidade e poupar nos custos), todo o filme foi feito de forma remota, mesmo os atores conseguiram gravar as suas vozes em estúdios caseiros. E o tal elenco com inspiração asiática inclui estrelas como Awkwafina, Kally Marie Tran (da última trilogia Star Wars) ou Sandra Oh.."Em parte, este dragão fêmea a que dou a voz tem muito de mim, embora talvez me tenha inspirado no génio de Alladin, que foi sempre um herói da minha infância. Quando me convidaram para isto e me explicaram qual a vibração da personagem, também me deram completa liberdade para eu trazer a minha personalidade. Os realizadores estiveram sempre disponíveis para tentar coisas diferentes e explorar novas possibilidades. Foi um processo que me trouxe grande responsabilidade", conta a atriz sino-americana Awkawfina, a vencedora do Globo de Ouro de melhor atriz de comédia em 2020 por A Despedida..Don Hall, realizador e responsável pela história, fala orgulhosamente em "magia Disney": "Aqui faz mesmo sentido evocar esse termo! Estávamos todos cientes de que um filme como este pudesse ter a maior importância para toda a cultura do Sudeste Asiático, sobretudo com estes atores que representam tanto para tanta miudagem... Fazer este filme foi como um sonho tornado realidade para toda a comunidade.".E um dos símbolos maiores nos EUA do novo poder artístico asiático é a atriz de Killing Eve, a veterana Sandra Oh, aqui a voz ambígua de Virana: "É um privilégio ser testemunha e cúmplice desta revolução. Fico mesmo feliz de estarmos a conseguir esta oportunidade de mostrarmos o talento de toda esta comunidade de artistas! É uma conquista muito bonita e importante, sobretudo para a nova geração." De facto, esta onda de Hollywood de apostar em conteúdos e talentos asiáticos parece estar a dar resultados - antes de Mulan já se podia celebrar esta diversidade cultural com filmes como Crazy Rich Asians ou A Despedida. Algo está a mudar e este Raya é um importante contributo para esta revolução..YouTubeyoutubeJdHB29Hu5Mc."A arte serve para fazer perguntas e sugerir possibilidades. E este é um filme sobre confiança que nos obriga a pensar no seguinte: em quem é que nós confiamos mesmo? O mundo, como sociedade, não pode continuar com está. A vida não anda para a frente com ódio, apenas com amor. Essa é a lição que Raya aprende e que pode servir de espelho para comunidade asiática nas grandes cidades americanas", vinca Sandra Oh quando confrontada com os problemas de violência cada vez maiores nos EUA entre asiáticos..Raya e o Último Dragão chega aos poucos cinemas americanos que estão abertos, mas será sobretudo um filme que globalmente será visto em streaming, tal como já aconteceu com Mulan e Soul. Mas está ainda aberta a possibilidade de em abril, se as salas abrirem mesmo, poder ser visto por cá num grande ecrã.