Avenida da Liberdade é cenário para o retrato ao hip-hop nacional

O português TNT, o angolano MCK e o regresso dos seminais Micro no programa deste ano da Ciência Rítmica Avançada, do Mexefest.
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O regresso dos Micro, o coletivo que na viragem do milénio, a par de nomes como Sam The Kid, Valete, Xeg ou Chullage, deu nova vida à cultura hip-hop em Portugal, é a grande novidade da Ciência Rítmica Avançada. Esta curadoria do jornalista Rui Miguel Abreu volta a avaliar a vitalidade do hip-hop em Portugal no Vodafone Mexefest, a realizar a 24 e 25 de novembro na Avenida da Liberdade, em Lisboa, com a presença não só do mítico grupo composto por D-Mars, Sagas e Nel"Assassin, mas também do português TNT e do angolano MCK.

"O critério da programação passa sempre por olhar para o momento e, a partir daí, criar uma narrativa do presente através dos artistas que convidamos", explica ao DN Rui Miguel Abreu, que pelo terceiro ano consecutivo é o responsável pela escolha. "Isso pode ser lido como um sinal de sucesso, mas eu prefiro ver isso mais como um reflexo da atual importância da cultura hip-hop dentro da indústria musical", sublinha o programador, que tem aproveitado "a vocação mais exploratória do Mexefest, um festival que não tem receio de arriscar", para ele próprio apostar também "em projetos diferentes e emergentes".

É o caso de TNT, que já neste ano editou o muito elogiado álbum Menino de Ouro e, segundo Rui Miguel Abreu, "consegue fazer uma ponte entre o passado e o presente" do hip-hop português. "Por vezes, as novas gerações esquecem-se de que esta cultura, em Portugal, já carrega o peso de mais de duas décadas de história e este disco, com a participação do Carlão e do Melo D, foi uma maneira muito original de homenagear todo um legado", considera Rui Miguel Abreu.

É a primeira vez que o rapper da Margem Sul atua num festival desta dimensão e as expectativas são altas, como o próprio confessa ao DN. "Representa uma oportunidade muito boa para dar a conhecer a minha música a um público mais alargado", reconhece TNT, que ainda está a decidir se leva a banda completa ou uma estrutura mais simples, apenas com teclas e DJ. "Queria fazer algo diferente, mas sem perder o tal lado mais orgânico, que também faz parte da minha música", explica. A aposta passa também por um conceito mais alargado de lusofonia, neste ano representado por MCK, um dos mais talentosos rappers angolanos, conhecido pelas suas rimas de intervenção social e política.

Mas a grande novidade desta edição é o regresso dos Micro, não só aos palcos como para estúdio. Desde 2002, por altura do lançamento do derradeiro trabalho Microlandeses, que o histórico grupo não criava nada de novo e neste concerto, que servirá também para assinalar os 15 anos do disco, vão ser apresentados temas inéditos. "Já estávamos a planear uma espécie de regresso, mas não sabíamos muito bem como e este convite surgiu na altura certa", reconhece Sagas, cujas colaborações com os antigos colegas se têm resumido a algumas participações no projeto Rocky Marsiano, de D-Mars. "O D-Mars vive atualmente na Holanda e nós somos um grupo da velha guarda, que precisa de estar na sala de ensaios, a olhar-se nos olhos, para conseguir criar algo novo. Somos artistas muito heterogéneos que encontram a sua verdadeira essência enquanto grupo. É essa a magia que acontece quando estamos juntos, como voltou a acontecer agora. Já gravámos, está a ser misturado e vai sair", revela o rapper.

"Se em vez de três artistas tivéssemos dez, conseguiríamos um retrato muito mais nítido do hip-hop nacional, mas assim também conseguimos refletir o que está a acontecer e, ao mesmo tempo, contribuir para que aconteçam coisas", admite Rui Miguel Abreu.

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