Auriol de ouro libertou o lançamento de sonho. Pichardo ficou com a prata

Portuguesa lançou o peso a 20.43 metros, conquistando o ouro e batendo o recorde nacional durante so mundiais de Belgrado. Triplista ressentiu-se de uma lesão, mas ainda ganhou a prata, batendo o recorde português indoor. Portugal tem agora 15 medalhas em mundiais de pista coberta.
Publicado a
Atualizado a

Auriol Dongmo enrolou-se na bandeira nacional, ajoelhou-se e benzeu-se. Tinha acabado de libertar o lançamento de sonho que tinha aprisionado, como confessou há dias ao DN, e conquistado o ouro nos Mundiais de Belgrado - horas depois de Pichardo ter ganho a prata no triplo salto. Ela sabia que tinha de passar os 20 metros para conquistar uma medalha e atirou o peso a 20.43 metros. "É uma sensação incrível. Finalmente consegui chegar ao meu melhor resultado na hora e no lugar certo", desabafou a nova campeã mundial indoor, que assim melhorou o recorde nacional e estabeleceu nova melhor marca mundial do ano.

Um resultado excecional para a atleta de 31 anos, que tem tido uma evolução brutal desde que se naturalizou portuguesa (melhorou quase três metros desde 2017). O ouro da atleta do Sporting é o quarto de sempre para Portugal, que soma agora 15 medalhas em mundiais indoor, igualando o máximo de duas por edição e terminando o primeiro dia dos Mundiais de Atletismo de Pista Coberta a liderar o quadro de medalhas.

Para Auriol nada se compara a representar Portugal e ouvir o hino nacional tocar por causa dela. E esta sexta-feira em Belgrado fez soar A Portuguesa e voltou a emocionar-se, mostrando um sorriso largo pouco habitual nela. A atleta junta assim o ouro mundial ao ouro europeu conquistado em 2011. O título mundial ainda não fará esquecer o 4.º lugar nos Jogos Olímpicos, mas atenuará a espera até Paris 2024.

Dona da melhor marca do ano até então (19.90 metros), a portuguesa entrou ontem na pista de Belgrado disposta a conquistar o ouro com um ensaio de 19.32 metros. Não gostou do segundo ensaio e anulou-o pisando deliberadamente a zona proibida. O terceiro e o quarto também foram nulos. O penúltimo foi brutal e superou as duas atletas que a tinham ultrapassado: a norte-americana Chase Ealey, com um lançamento a 20.21 metros e também a holandesa Jessica Schilder, com 19.48.

Crente e devota de Nossa Senhora de Fátima, Auriol Dongmo confessou depois que não soube onde foi "buscar força", quando a norte-americana [Chase Ealey] passou para a frente do concurso com um ensaio de mais de 20 metros. Mas olhou para o céu "a pedir ajuda a Deus, porque precisava mesmo de ajuda". E Deus ajudou-a, recuperando o primeiro lugar com um ensaio de 20.43 metros. "É uma alegria imensa e uma medalha que eu queria mesmo. Pedi a Deus que me desse esta medalha", desabafou Auriol, admitindo que vai trabalhar para conquistar mais medalhas no verão, nos Mundiais ao ar livre e nos Europeus,"porque nada cai do céu".

A outra portuguesa presente na prova, Jessica Inchude, foi a 12.ª, com a melhor marca em 17.58.

A medalha de Auriol foi a segunda do dia nos Mundiais de Atletismo de Pista Coberta, em Belgrado, depois da prata de Pedro Pichardo no triplo salto masculino. Após o ouro nos Jogos Olímpicos, todos os olhares estavam virados para Pichardo e o concurso começou bem para o português (tirando o facto do cubano Lázaro Martínez ter saltado mais do que ele - 17.64 metros, a melhor marca mundial do ano). Saltou 17.42 metros no primeiro ensaio e bateu o recorde nacional em pista coberta que era de Nelson Évora (17.40, nos Mundiais de Birmingham, em 2018).

No segundo salto melhorou a marca pessoal e reforçou o recorde nacional com um salto de 17.46 metros. O terceiro ensaio foi nulo. O quarto desastrado (14.94) e saiu a caminhar pela areia, sendo depois captado pelas câmaras a fazer sinal ao treinador (e pai), apontando para o pé enquanto se descalçava, sinal de que algo podia não estar bem. E não voltou a saltar.

Pichardo não quis comprometer a participação nos Mundiais ao ar livre (15 a 24 de julho) no Oregon (EUA), a grande aposta para bater o recorde mundial absoluto (18.29 metros) que dura desde 1995. "Já tinha sentido no aquecimento uma coisinha, mas decidi competir. Nos dois primeiros saltos ainda deu para os fechar, sentindo algum desconforto, mas ao quarto senti que era mais forte, falei com o meu treinador e decidimos parar por ali. E agora, enquanto caminho, vai doendo a cada passo", explicou o campeão olímpico, "muito focado no verão com Mundiais e Europeus".

A velocista portuguesa Lorene Bazolo ficou satisfeita com a consistência demonstrada nos 60 metros em Belgrado. A atleta olímpica fez a distância em 7,24 segundos (ficou a sete centésimos do seu recente recorde nacional), tanto nas eliminatórias como na semifinal, terminando na 20.ª posição da geral.

"Desde o início da temporada que tenho estado muito consistente, em volta dos 7,29 segundos. As marcas estão cá. Tinha a consciência de que na meia-final tinha de fazer o meu recorde pessoal para ter esperança de poder passar. Estou satisfeita. Foram os meus melhores Mundiais, porque nunca tinha corrido tão rápido como desta vez", disse à agência Lusa, confessando sonhar com "uma meia-final e por que não com uma final" numa grande competição.

Sábado entram em ação os portugueses Isaac Nader (1500 metros), Carlos Nascimento (60 metros) e Francisco Belo (lançamento do peso).Domingo é a vez de Abdel Larrinaga (60 metros barreiras) e Patrícia Mamona (triplo salto). Depois dos títulos europeus (2016 e 2021) e da prata conquistada em Tóquio 2020, a triplista vai à procura de um pódio mundial, depois dos quartos lugares em 2015 e 2019.

isaura.almeida @dn.pt

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt