Audiências no Congresso deixam Trump em fúria
Integrado na investigação ao processo de destituição conduzido pelos democratas ao presidente republicano, Kurt Volker, diplomata norte-americano que desempenhou o cargo de representante especial para as negociações da Ucrânia vai ser ouvido à porta fechada pelo Comité dos Serviços Secretos.
Volker demitiu-se na sexta-feira, no dia seguinte à divulgação pública de uma denúncia que descreveu a sua função como o de quem estava a tentar "conter os danos" das iniciativas do advogado de Trump, Rudy Giuliani, em pressionar a Ucrânia a investigar os democratas.
Os congressistas democratas tinham indicado que estavam a preparar-se para solicitar os registos da Casa Branca sobre o telefonema de 25 de julho de Trump com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Trump é acusado de ter pressionado Zelensky para investigar Joe Biden, o ex-vice-presidente e favorito dos democratas nas primárias. A transcrição do telefonema publicado pela Casa Branca e que Trump diz ser "perfeito" levou a líder da Câmara dos Representantes Nancy Pelosi a anunciar uma investigação formal para a destituição na semana passada.
Volker, de 54 anos, ex-embaixador dos EUA na NATO, comparece voluntariamente no Congresso, em sessão à porta fechada. É a primeira de uma série na investigação, programada para ocorrer nos próximos 10 dias. Na sexta-feira, o inspetor-geral da Comunidade de Serviços Secretos Michael Atkinson vai testemunhar.
Na próxima semana será a vez da anterior embaixadora em Kiev, Marie Yovanovitch, ser ouvida. A diplomata destacada na Ucrânia viu a sua comissão de serviço ser interrompida a meio por ordem presidencial. Yovanovitch destacou-se por advogar a necessidade da sociedade ucraniana combater a corrupção, dando seguimento à linha política dos EUA naquele país.
No entanto, e de acordo com o famoso telefonema entre Trump e Zelensky, a ação da diplomata de carreira era mal-vista pelos dois homens. "A ex-embaixadora dos EUA, a mulher, era sinónimo de sarilhos e as pessoas que afrontava na Ucrânia eram sinónimo de sarilhos", disse Trump, citado pela Foreign Policy. Zelensky, um ex-comediante, terá gostado do que ouviu. "É ótimo que seja a primeira pessoa a dizer que ela era uma má embaixadora porque eu concordo cem por cento. A sua atitude para comigo estava longe de ser a melhor, porque ela admirava o presidente anterior e estava do seu lado", respondeu o ucraniano.
Foi neste ambiente que Donald Trump recebeu o homólogo da Finlândia, Sauli Niinisto. Quer o início do encontro quer a conferência de imprensa que se seguiu ficaram marcados por uma série de declarações e gestos incomuns. Niinisto começou por dizer que visitou os museus de História Americana, de História Afro-americana e de História Nativa, para depois se virar para Trump e dizer: "Presidente, tem um grande democracia. Mantenha-a."
O homem de negócios aproveitou a deixa para acusar o presidente do Comité dos Serviços Secretos Adam Schiff de "traição" devido ao processo de destituição e afirmou que o relatório da Casa Branca sobre o telefonema com Zelensky é uma transcrição "palavra por palavra", apesar de na primeira página do relatório se dizer o oposto.
Questionado se considera que quem lhe faz oposição é um traidor, o presidente norte-americano disse que não, "só quando mentem". "Acreditem ou não, eu tenho muito cuidado com as minhas palavras", disse.
À pergunta "O que quer ou quis que o presidente Zelensky fizesse a respeito de Joe e Hunter [o filho de Joe] Biden?", Trump respondeu "Está a falar comigo?" e fugiu à pergunta dizendo "está aqui o presidente da Finlândia, faça-lhe uma pergunta". À insistência do jornalista da Reuters, Trump perdeu o pé: "Não me ouviu? Faça-lhe uma pergunta!" Quando o jornalista estava a dirigir-se ao chefe de Estado finlandês, Trump interrompeu-o e começou a perguntar ao jornalista que anteriores presidentes haviam obtidos vitórias ao nível dos tratados comerciais, ao que Niinisto disse: "Acho que a pergunta era para mim."
Outro momento da conferência foi quando uma jornalista, a única finlandesa que teve a oportunidade de fazer uma pergunta, depois de Trump ter pedido a Niinisto para "escolher um jornalista realmente simpático". "Que género de favores Trump lhe pediu?", foi a questão dirigida ao presidente finlandês.
"Penso que quer dizer o contrário", interrompeu Trump.
Antes, o presidente finlandês, que não escondeu o desconforto em que se encontrou, teve um gesto que resume o encontro entre ambos. Quando Donald Trump toca no joelho esquerdo do chefe de Estado europeu, este levanta a mão como que a afastar qualquer contacto físico.