Campeã. Fernanda Ribeiro de ouro .1996. Ano do centenário dos Jogos Olímpicos da era moderna. Jogos Olímpicos atribuídos à cidade de Atlanta, nos Estados Unidos da América. Pela quarta vez, os EUA recebiam as Olimpíadas, coisa que nenhum outro país pode afirmar. Eis, pois, a discussão: os mais tradicionalistas defendiam que, até por uma questão de simbolismo, este Jogos Olímpicos deviam decorrer na Grécia, onde afinal os Jogos nasceram. .Ainda a grande distância da inauguração, gerou-se uma vaga de fundo pró-Atenas. Mas o Comité Olímpico Internacional (COI) manteve-se irredutível na sua decisão. Em má hora. Os Jogos Olímpicos de Atlanta foram um mau exemplo de organização e de verdadeiro espírito desportivo. Os americanos fizeram deste evento uma grande manifestação de chauvinismo. Todas as competições em que par- ticipasse um americano eram consideradas importantes. Todas as outras, nem que caíssem recordes do mundo, se não fosse um atleta norte-americano a batê-lo era como se não tivesse acontecido. .E logo nos Jogos em que 79 países conseguiram medalhas olímpicas. Logo nos Jogos em que os países do continente africano tiveram a sua melhor prestação de sempre, registando a sua primeira vitória numa modalidade colectiva: o futebol, no qual a Nigéria alcançou ouro e glória. Logo nestes Jogos, onde o COI conseguiu juntar pela primeira vez as 196 nações da família olímpica, tantas vezes desavinda. E foi logo nestes Jogos que o terrorismo voltou para atormentar a história das Olimpíadas, 24 anos depois de Munique, com um atentado à bomba no Parque Centenário Olímpico, tirando a vida a duas pessoas, deixando feridas mais de uma centena. Logo nesse ano, em que a polícia tinha finalmente detido o famoso "Unabomber". .Na cerimónia de encerramento dos Jogos, Juan Antonio Saramanch, o presidente catalão do Comité Olímpico Internacional, teve de mudar o discurso que todos os presidentes do COI fazem quando terminam uns Jogos, dizendo que "tinham sido os melhores Jogos Olímpicos de sempre". Desta vez, o presidente do COI disse só um lacónico "Bom trabalho, Atlanta". .Mas a verdade é que Atlanta esteve longe de fazer um bom trabalho. Para começar, durante as competições estava um trânsito infernal entre a Aldeia Olímpica e os recintos desportivos, coisa que a organização surpreendentemente não conseguiu prever. É claro que as delegações e os próprios atletas fizeram um rol de queixas. Mais supreendente ainda foi o sistema informático de apoio às Olimpíadas se ter revelado um verdadeiro desastre. O excesso de fulgor "patrioteiro" norte--americano completou o ramalhete. Para cúmulo, a organização esbanjou milhões e milhões de dólares para que nada falhasse no ano do centenário. .Com tantas falhas em catadupa, o ministro dos Negócios Estrangeiros grego não perdeu a oportunidade para espetar uma farpa no coração organizativo dos Jogos, afirmando publicamente que "Atenas faria muito melhor" e que Atlanta era a prova provada que, assim, qualquer país podia ser anfitrião de umas Olimpíadas. .O Comité Olímpico Internacional não respondeu à provocação. E o mesmo fez o Executivo de Bill Clinton, aliás, em fim de mandato e a braços com os "escândalos sexuais" da praxe. Atlanta foi um desfile de vaidades e, em matéria de bilhetes vendidos, nenhuns outros Jogos chegaram perto. Os números oficiais apontaram para mais de dez milhões de bilhetes vendidos, o equivalente à população de Portugal, já que a organização vendia bilhetes até para os treinos. .E os EUA conseguiram finalmente ganhar a corrida às medalhas, coisa que não acontecia desde 1968, embora em 1984, nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, também tivessem saído vencedores. Razão: a antiga União Soviética - que em Atlanta já competia como Rússia - e a ex-República Democrática Alemã, duas das grandes potências olímpicas, boicotaram esses Jogos, exactamente como tinham já feito os EUA nas Olimpíadas de Moscovo, em 1980. .De Atlanta, viajaram para Portugal duas medalhas, ouro e bronze. Mais uma vez, o atletismo conquistava o ouro olímpico. Desta vez, a proeza foi em pista, onde Fernanda Ribeiro ganhou os dez mil metros.|