Até um bebé sorriu quando Marcelo lhe apertou as bochechas

Presidente da República visitou ontem Centro Social de Nossa Senhora da Paz, no Bairro da Bela Vista. Entre afetos, foi dizendo que a saída da crise "não vai ser rápida nem fácil"
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Já Marcelo Rebelo de Sousa tinha pegado nas crianças de meses que estavam na creche ao colo, abraçado as mães, beijado educadoras e auxiliares, ao seu estilo. Mas ainda faltava o afeto presidencial para aquele bebé lá do fundo da sala que estava nos braços do bisavô, com apenas 65 anos, atento ao atípico rebuliço. "Temos que dar miminhos a todos", avisava, aproximando-se do menino para lhe apertar as bochechas. Uma e outra vez.

Mas o Presidente da República não se ficou sem resposta. Recebeu um sorriso largo de quem tem pouco mais de um ano e uma família sui generis. A mãe tem hoje 15 anos e é uma das 720 jovens apoiadas pela Cáritas de Setúbal desde 2001 por maternidade prematura. Atualmente o apoio contempla 45 progenitoras.

O caso da mãe Daniela foi apenas mais um que Marcelo Rebelo de Sousa encontrou ontem - Dia Internacional da Caridade - durante a visita ao Centro Social de Nossa Senhora da Paz, no Bairro da Bela Vista, onde reside uma percentagem significativa das jovens mães. 12 - de um total de 45 - estão neste momento a ser apoiadas pela Cáritas com comprovadas carências económicas, tendo a instituição aumentado ontem a capacidade de resposta para mães adolescentes.

O Presidente assistiu à assinatura de um protocolo entre a Secretaria de Estado para a Cidadania e Igualdade e a Cáritas Diocesana de Setúbal para o funcionamento do Centro de Acolhimento de Nossa Senhora da Misericórdia, tratando-se de um novo espaço que vai acolher, de forma temporária, mulheres vítimas de violência, mães adolescentes e jovens grávidas em situação de risco.

"Vai haver lugar para quatro mães e vamos ter todas noites uma pessoa com elas", revelou o presidente da Cáritas, Eugénio Fonseca, enquanto abraçava Fátima Soares, uma freira reformada após 40 anos a trabalhar como parteira, que Marcelo também quis abraçar. "Gosto de ensinar as jovens sem lhes perguntar nada", disse ao DN.

As mães adolescentes vão ficar na casa até terem autonomia financeira para viverem sozinhas com os filhos. Começarão por estudar para depois irem sendo introduzidas no mercado de trabalho "Mas haverá sempre uma ligação a nós", avançou o dirigente, lamentando que a casa tivesse sido cedida pela câmara há dois anos, mas só agora tenha sido possível avançar com o projeto porque a Segurança Social não tem verbas para contratar uma pessoa, sendo por estas e por outras que Marcelo levou um recado a Setúbal.

Alegando que a saída da crise "não vai ser rápida nem fácil", e que irá "demorar anos", recomendou que seja encontrada uma "solução equilibrada" que consiga dar resposta ao rigor financeiro sem perder de vista os problemas sociais mais graves que estão a afetar as famílias. Até referiu que a forma mais fácil de ultrapassar a crise seria apostar na contenção durante quatro a seis anos, mas reconheceu que assim não se estaria a contemplar os mais carenciados.

"O país não pode esquecer o combate social", insistiu durante a sua primeira visita a Setúbal, antes de "espalhar" abraços, beijos e palavras solidárias com todas as pessoas com quem se ia cruzando no edifício que partilha várias valências em pleno bairro social da Bela Vista, onde os primeiros realojamentos para famílias residentes em barracas e refugiados das ex-colónias portuguesas datam de 1980. O bairro com 1259 fogos tem cerca de 3800 habitantes. Não faltam por aqui mediáticos confrontos entre moradores e polícia, mas é o próprio padre Constantino Alves a assegurar que as "coisas estão mais calmas", apesar da crise "continuar a preocupar muito".

Marcelo irrompeu pela sala onde a professora Gabriela Sousa dava aulas a um grupo de homens, entre os 21 e 61 anos, que ainda esperam mudar de vida. Recebem o Rendimentos Social de Inserção mas os sete meses que dura o curso de pintura de construção civil dará equivalência ao 4º ano. "Olhem que eu depois quero essas pinturas", disse Marcelo. "Só se vier cá para o ano", retorquiu Paulo Silva, o mais falador da turma. "Sabemos que vai melhorar isto", insistiu. Resposta do Presidente: Temos que melhorar todos".

(Notícia corrigida às 10:58: substitui gralha na palavra 'creche')

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