"Em vez de tentar perceber o trabalho realizado pela jornalista Deolinda Freire [da Rádio Televisão de Cabo Verde -- TCV], dando-lhe o necessário suporte profissional e emocional, a direção [da TCV] colocou-se, desde a primeira, ostensivamente, ao lado da queixosa", a ex-inspetora-geral da Saúde, Iris Vasconcelos Matos, escreve a AJOC em comunicado..Em causa uma notícia elaborada pela jornalista Deolinda Freire, e difundida na emissão de 25 de fevereiro deste ano, na qual "a repórter cita declarações proferidas pela Dra. Iris Vasconcelos Matos durante uma audição" numa comissão parlamentar, "segundo as quais Cabo Verde registou 24 óbitos não esperados, alegadamente, por negligência médico-hospitalar, acrescendo que no momento estão a decorrer, em torno desses casos, 16 processos disciplinares"..No seguimento desta notícia, Íris Vasconcelos Matos apresentou uma queixa na Autoridade Reguladora para a Comunicação Social (ARC) contra a RTC por "alegado comportamento suscetível de configurar violação de direitos, liberdades e garantias"..Segundo a deliberação da ARC, a queixosa alegou que "o que foi transmitido na peça jornalística acima referida foram a imagem da queixosa e trechos das respostas dadas, aquando da sua audição, de forma totalmente descontextualizada, com o propósito único de manchar o bom nome e a imagem da queixosa"..Por isso, concluiu que "o seu nome e honra foram postos em causa pela conduta ilícita dos jornalistas, violadora dos seus direitos civis e direitos fundamentais", razão de ter requerido a intervenção da ARC..A 05 de março, a TCV apresentou uma peça no Jornal da Noite em que revela que "teve acesso a uma gravação áudio de uma comissão especializada do Parlamento, onde a ex-Inspetora-Geral da Saúde disse que nos hospitais de Cabo Verde nos últimos nove meses, foram registadas 24 mortes não esperadas, alegadamente por negligência", ainda segundo o texto da deliberação da ARC..No seguimento da queixa apresentada à ARC, realizou-se uma audiência de conciliação a 01 de abril, onde compareceram a queixosa e a chefe do departamento de informação da TCV, tendo Íris Vasconcelos Matos apresentado uma proposta à TCV no sentido de esta "apresentasse oficial e formalmente uma retratação, dirigida à sua pessoa", divulgada publicamente e ao mais alto nível, na qual "reconhecesse que a notícia não tinha observado os princípios legais de objetividade, do rigor e da imparcialidade"..Segundo a deliberação da ARC, a TCV aceitou a proposta..Após estes procedimentos, a ARC deliberou que "a TCV não respeitou todas as normas e obrigações legais" e instou o canal público de televisão "ao cumprimento escrupuloso das suas obrigações ético-jurídicas, designadamente em matéria de objetividade, imparcialidade, isenção e rigor jornalísticos"..Para a AJOC, "a ARC agiu de forma absolutamente ligeira, rudimentar e parcial na análise" desta queixa.."A ARC limita-se a elencar uma série de normas constitucionais, bem como alguns artigos da legislação ordinária para o setor da comunicação social e do Estatuto do Jornalista, sem se dar ao trabalho de os valorar e interpretar e, muito menos, demonstrar em que sentido esses preceitos legais foram violados pelo trabalho da jornalista", lê-se no comunicado da AJOC. .A associação denuncia "a forma subserviente como se portou a direção da TCV em todo este processo". ."Em vez de tentar perceber o trabalho realizado pela jornalista Deolinda Freire, dando-lhe o necessário suporte profissional e emocional, a direção colocou-se, desde a primeira, ostensivamente, ao lado da queixosa", prossegue a nota. ."Caso a direção da TCV estivesse deveras interessada em defender o seu estatuto editorial, teria levado em linha de conta um parecer emitido pelos membros do Conselho de Redação, que se reuniram no dia 18 de março, para analisar a queixa apresentada pela ex-inspectora-geral da saúde, apesar da ausência do diretor da estação, não obstante ter sido convocado".