O governo vai prolongar o regime transitório para o cálculo do imposto sobre veículos (ISV) e do imposto único de circulação (IUC) até à entrada em vigor do Orçamento do Estado para 2020 e a Associação do Comércio Automóvel de Portugal (ACAP) aplaude a iniciativa. "Esta prorrogação tinha de ser feita para o mercado automóvel não ter sobressaltos. Sem ela, o mercado pararia durante mês e meio ou dois meses porque os valores do imposto subiriam bastante", diz o secretário-geral da ACAP. A medida, acrescenta Hélder Pedro, "visa evitar distorções e ajudar a manter a normalidade"..O regime transitório foi criado em 2019, com a entrada em vigor da nova metodologia de cálculo das emissões de CO2 - baseada no ciclo Worldwide Harmonized Light Vehicle Test Procedure (WLTP), que, por utilizar nos seus testes critérios mais realistas, deteta mais 30% de emissões do que o método antigo, o New European Driving Cycle -, que implicava um agravamento considerável tanto do ISV como do IUC. Para mitigar este efeito, o governo criou uma espécie de mecanismo-travão, com uma tabela de desconto que ia dos 5% aos 21% no IUC e dos 5% aos 25% no ISV. O desconto é tanto mais pequeno quanto mais poluentes são os veículos..Para 2020, estes descontos foram incorporados na própria tabela de cada um destes impostos, pelo que o regime transitório só é necessário até à entrada em vigor do novo Orçamento..A criação do regime transitório merecera já, em outubro de 2018, quando foi anunciado, uma avaliação positiva por parte da ACAP. "Dentro de um cenário que é negativo, uma vez que o nível de fiscalidade no CO2 é muito elevado em Portugal, consideramos que a solução se aproxima da realidade", destacou, então, Hélder Pedro..Sobre as perspetivas de negócio para o setor em 2020, o responsável não antecipa grandes mudanças. "Vamos fechar o ano de 2019 com uma pequena descida nas vendas de automóveis e não prevemos que, em 2020, as coisas mudem grandemente. Não há nada previsto no Orçamento que possa fazer disparar o mercado, designadamente a nível da carga fiscal, que se mantém elevadíssima", refere. Para Hélder Pedro, o país precisa de "alterar a forma como tributa o automóvel", uma mudança que admite não poder ser feita num ano, mas que deveria ocorrer "no espaço de uma legislatura". O objetivo, diz, deverá ser a "harmonização" com os restantes países europeus, "até para evitar a constante conflitualidade que tem existido com Bruxelas nesta matéria". A ACAP "já se mostrou inclusivamente disponível para colaborar" com um eventual grupo de trabalho que o governo venha a criar para estudar esta matéria..Há "ganância" na política fiscal do governo para o setor, diz Carlos Barbosa.Mais incisivo, o presidente do Automóvel Clube de Portugal (ACP) classifica a política fiscal em matéria automóvel como "ganância" e "tiro no pé". E dá o exemplo da falta de atratividade dos veículos elétricos, que continuam a ser "muito caros", levando a que só o Estado, as autarquias e as empresas municipais possam comprar este tipo de carros..O consumidor comum "compra carro novo apenas quando precisa de trocar de carro" e, "se puder poupar alguma coisa, aproveita", mas não é esse o fator decisivo. "Em Portugal não temos transportes públicos que possam substituir o transporte privado. É verdade que há uma melhoria substancial no preço dos transportes, mas não na sua eficácia. E, por isso, mais de 80% das pessoas continuam a levar o carro para irem trabalhar. Não é um luxo, é um instrumento de trabalho", frisa Carlos Barbosa.