Assalto à Casa Branca com meia bola e força

Ric Roman Waugh realiza mais um filme, Gerald Butler e Morgan Freeman retomam as personagens em <em>Assalto ao Poder</em>. Em estreia mundial nas salas nacionais, cinema com pólvora e ruído mas sem fogo.
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O cinema de ação americano para o grande público em 2019 continua igualzinho ao que era nos anos 80: herói macho a despachar tudo e todos, estética brutamontes e mulheres relegadas para o papel da vítima. Claro que há exceções mas este terceiro filme da saga do Presidente Trumbull e do seu segurança Mike Banning não é uma delas.

A "velha escola" elevada ao máximo, apenas com uma realização com as "câmaras lentas" da moda, quase sempre em diálogo com "freezer", como acontece naqueles anúncios dispendiosos de after shave para homens de barba rija, mas nada que suavize uma menagem de promoção primária aos prazeres de homens adultos a disparar armas de fogo e a fazer explodir edifícios, aviões e carros.

Depois de Assalto à Casa Branca (2013), de Antoine Fuqua e de Assalto a Londres (2016), de Babak Najami, a série da Millennium Films continua com mais um tomo, em que desta vez a relação entre o Presidente e o seu segurança é posta em cheque quando uma agência militar consegue incriminar Mike Banning por um massacre que deixou os serviços secretos com um acentuado número de baixas, já para não falar de ter atirado Trumbull para uma cama de hospital em coma. O nosso herói inocente é preso mas consegue escapar e, com a ajuda do pai, faz pela vida para descobrir quem o incriminou e provar ao FBI a sua inocência ao mesmo tempo que tenta salvar o Presidente.

O escocês Gerard Butler volta a colocar o seu melhor sotaque ianque e, mesmo com uns quilos a mais, dá conta do recado no que toca a perseguições, proezas de duplos e muita expressão facial nos tiroteios, mas são os mais velhos que roubam todas cenas. Como dizia o falecido crítico Manuel Cintra Ferreira, Morgan Freeman é um dos maiores atores americanos, mesmo, como aqui acontece, deitado numa cama de hospital entubado e sem pestanejar.

A piada é que nas poucas cenas em que vemos Morgan Freeman na sala Oval da Casa Branca olhamos para o seu Presidente como uma espécie de anti-Trump. Olhamos mas o realizador não quer saber nada disso, está preocupado com a pólvora e o aparato bélico. Nesse aspeto, verdade seja dita, o filme cumpre com galhardia os mínimos - há cena de ação com uma coreografia bem composta. Mas a grande novidade é o aparecimento de um Rambo geriátrico: Nick Nolte na pele de um ex-militar especialista em intervenção em túneis que mais não é que o pai do herói Banning. Nolte está excelente e joga com a sua degradação física para efeitos de humor, coisa que este projeto sisudo deveria ter mais.

Bruto e básico, Assalto ao Poder é sempre agitado, embora por mais do que agite nunca chega a empolgar. Apenas temos tática militar a ser filmada como espetáculo de fogo de artifício, servido por uma intriga que ofende a inteligência do espetador no que toca à plausibilidade.

Como seria de esperar, mais um elogio jurássico ao orgulho da adrenalina masculina. Se olharmos para os números dos dois Assaltos anteriores, é de supor que em Portugal há muitos fãs...

** Com interesse

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