Assad amnistia rebeldes que se rendam até outubro

Frente Al-Nusra deixa de depender da Al-Qaeda e adota novo nome. Rússia anuncia criação de corredores humanitários em Aleppo.
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O regime de Bashar al-Assad anunciou ontem uma amnistia para todos os elementos dos grupos armados da oposição que se entreguem nos próximos três meses. Um anúncio surgido no mesmo dia em que o líder da Al-Qaeda, Ayman al-Zawahiri, fez divulgar uma gravação áudio em que liberta a Frente Al-Nusra, uma das mais importantes organizações islamitas que combate o regime de Damasco, "os laços organizativos" com o grupo fundado por Osama bin Laden, se isso contribuir para reforçar a aliança com outras forças anti-Assad.

"Qualquer pessoa armada (...) e procurada pela justiça (...) fica isenta da totalidade da pena se se render e depuser as armas nos três meses seguintes" à publicação do documento, apresentado ontem e cujo conteúdo foi divulgado pela agência oficial Sana.

A Frente Al-Nusra surgiu pouco depois do início da revolta contra o regime de Assad, em março de 2011, tendo colaborado com o Estado Islâmico (EI) quando esta organização ainda se denominava Estado Islâmico do Iraque e do Levante, até 2013, passando então a enfrentá-lo no campo de batalha. Em diferentes pontos da Síria, a Al-Nusra combate juntamente com diferentes organizações da oposição.

A Al-Nusra, o EI e outros grupos islamitas foram excluídos de uma trégua acordada em fevereiro entre os grupos da oposição e o regime de Damasco, continuando a ser atacados no terreno, e alvos dos bombardeamentos da coligação internacional e da aviação russa. Recentemente, soube-se que Washington e Moscovo discutiam a partilha de informações para melhor combater a Al-Nusra.

O corte organizativo com a Al-Qaeda permitiria o reforço da cooperação nas fileiras da oposição e era ontem antecipado que poderia abrir caminho à formação de uma coligação mais abrangente a ser apoiada, logística e financeiramente, pelos Estados do golfo que querem destronar Assad. Em paralelo, representaria um facto negativo na perspetiva ocidental. Isso mesmo era explicado ontem à Reuters por Aymenn Jawad Al-Tamimi, investigador no Middle East Forum, para quem o fim da relação formal entre a Al-Qaeda e a Al-Nusra é o "pior desenvolvimento possível para os Estados Unidos", que apoiam principalmente milícias curdas e o Exército Livre da Síria. "Atacar os elementos terroristas será mais difícil, estes passarão a estar presentes em áreas sob controlo de outros grupos da rebelião" e a nova entidade terá, sem dúvida, "mais força para enfrentar os grupos apoiados pelos EUA, em especial no Norte" da Síria, onde se concentram as forças curdas.

Horas depois da divulgação da mensagem de Zawahiri, o líder da Al-Nusra, Abu Mohamad al-Golani, surgia num vídeo a comunicar a criação de "uma nova organização sem quaisquer relações com entidades estrangeiras". Naquela que foi a primeira vez em que Golani apareceu em vídeo e de rosto descoberto, este justificou a mudança operada para com os "pretextos da comunidade internacional - sob a direção da América e da Rússia - para bombardear e forçar a deslocação dos muçulmanos no Levante [Síria]". Golani indicou ainda que a nova entidade adotou a designação de Jabhat Fatah al Sham (Frente para a Libertação da Síria).

Um dos principais aliados do regime de Assad em paralelo com o Irão, a Rússia anunciou ontem "operação humanitária de grande amplitude" em Aleppo, no Norte da Síria, com a criação de corredores humanitários para civis e combatentes que deixem as fileiras da oposição. Principal centro económico da Síria até ao início da guerra civil, Aleppo está dividida num setor sob controlo do regime e um outro sob controlo de grupos da oposição. Desde o início do mês que nenhuma ajuda humanitária chegou a esta última área.

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