A pesquisa analisou dez estudos aleatórios sobre a eficácia da aspirina, num total de 117 279 participantes dos dois sexos, de diferentes idades e constituição (peso e altura). Concluíram que o peso influencia diretamente os efeitos da aspirina e que este deve ser tido em conta no momento de definir a dosagem..A pesquisa concluiu que uma dose com 75 a 100 miligramas reduz o risco de doenças cardiovasculares em pacientes que pesem entre 50 e 69 quilos. Contudo, aqueles que pesem mais de 70 veem os benefícios reduzidos em 23%. Mas não só. O ácido acetilsalicílico (aspirina) aplicado em pequenas doses em pessoas com mais de 70 quilos pode agravar o cenário no primeiro acidente cardiovascular. Nestes casos, a dose deve ser aumentada para 325 miligramas..O cardiologista Manuel Carrageta, da Sociedade Portuguesa de Cardiologia, explica a utilização da aspirina. «A aspirina ataca o colesterol em excesso acumulado à volta das artérias numa primeira fase. Há um processo inflamatório e começa a haver muito calcário nas paredes dos tubos. Impossibilita a passagem da água e causa a acumulação de plaquetas. A aspirina tem uma ação antiplaquetária, ou seja, não permite esta acumulação e funciona também como anti-inflamatório. Por isso faz sentido a medicação em pacientes com doenças cardiovasculares. Todos nós, cardiologistas, receitamos a aspirina.».Cerca de 80% dos homens e 50% das mulheres que participaram no estudo não tiveram qualquer alteração com a dose diária de 100 miligramas. O cardiologista Luís Manuel Lopes Barreiro disse ao El País que este estudo «demonstrou algo que já suspeitávamos. Normalmente não mudamos uma prática apenas com um estudo. Neste caso é significativo e trata de algo tão lógico que provavelmente a partir de agora vamos passar a tê-lo em conta»..Manuel Carrageta admite que o peso não é tido em conta nas consultas. "Não temos o peso em conta, receitamos a dose standard de 100 miligramas. Esta questão do peso pode fazer sentido em pessoas que realmente estão muito acima do recomendado. Em algumas situações graves passamos para 150 mg diários.".Ao The New York Times , Peter M. Rothwell, o responsável pelo estudo, admitiu que "milhões de pessoas tomam uma aspirina por dia para prevenir acidentes cardiovasculares e todos os ensaios até agora aplicavam a mesma dose aos participantes. É possível que tenha sido um equívoco e que deveríamos passar a aplicar doses personalizadas a cada pessoa, como aliás se faz com outros medicamentos."