Depois de um fim de semana em que o grupo parlamentar do PS esteve reunido no Algarve (num encontro que contou com a presença do secretário-geral do partido e primeiro-ministro, António Costa, no sábado) é possível traçar cinco prioridades para os socialistas num horizonte próximo..1.ª prioridade: Orçamento do Estado.A primeira prioridade é, no imediato, e a começar já nesta segunda-feira, a discussão e votação em sede de especialidade do Orçamento do Estado para 2019..Nos últimos dias, depois de uma primeira votação na generalidade em que a esquerda parlamentar acompanhou o PS para viabilizar a proposta do Governo, somaram-se sinais de alerta dos principais dirigentes socialistas para estancar alterações ao documento que venham a pôr em causa a sustentabilidade da própria proposta de lei..Quer António Costa quer o líder parlamentar do PS, Carlos César, deixaram avisos sérios aos seus parceiros na chamada geringonça para não desvirtuarem as contas. O caminho de rigor, defenderam à vez, é aquele que tem permitido uma política de devolução de direitos e rendimentos, a fórmula mágica que sustentou a argamassa com que o XXI Governo Constitucional resistiu nestes três anos de legislatura..Costa bateu mais à direita, a quem acusou de serem "os campeões do despesismo", para melhor poupar os seus parceiros de esquerda, mas manteve as críticas ao BE e ao PCP na questão do tempo de contagem da carreira dos professores e irem atrás de PSD e CDS. César não foi tão meigo e acusou os bloquistas e os comunistas de estarem impreparados para governarem, por "negligenciarem o cumprimento das normas a que o país está obrigado"..2.ª prioridade: eleições legislativas.António Costa apontou o dedo ao ano eleitoral para melhor se entenderem as pressões orçamentais, sobretudo dos seus parceiros parlamentares. "Era o que faltava que neste ano, lá por ser ano de eleições, deitássemos a perder tudo o que tanto trabalho nos deu a conquistar", atirou em Portimão, na intervenção que fez aos deputados socialistas..Já Carlos César prescreveu a receita para o PS até às eleições legislativas de 2019. Os socialistas, apontou, devem ser "firmes" nos seus propósitos, "sérios" nos seus compromissos para assim poderem "pedir um PS mais forte que conduza o país por um caminho mais seguro". De fora desta frase ficaram as palavras que o partido quer evitar dizer, pelo menos em voz alta: "Maioria absoluta.".3.ª prioridade: a Europa e as eleições.No dia em que o Conselho Europeu se entendeu em 38 minutos para chegar a acordo no Brexit, Carlos César deixou uma profissão de fé na União Europeia (UE), como já tinha feito na véspera o secretário-geral do partido. Lembrando que "até hoje todos os europeus procuraram na UE um espaço de bem-estar e de progresso e nunca o fizeram fora dela ou para fora dela", o líder parlamentar notou que "a situação que hoje vivemos é um sinal amarelo para a União Europeia", com os "populismos autoritários" a germinarem no interior da comunidade. "Não nos podemos alhear da necessidade de superar esses fatores que têm contribuído para a fragilização do projeto", avisou, sem nada antecipar ainda sobre as próximas eleições europeias, de maio do próximo ano..Só que os socialistas enfrentam outro desafio mais caseiro, que é o de resolver o problema do seu próprio cabeça-de-lista a essas eleições. Francisco Assis - que há mais de quatro anos foi o nome que o anterior líder do PS, António José Seguro, apresentou ao eleitorado - acabou ultrapassado pelo sucesso da geringonça, uma fórmula de governação de que foi muito crítico até muito tarde. Demasiado tarde..Agora, o PS procura alguém que seja para o país um nome forte, mas que também internamente mobilize o partido, numas eleições que tradicionalmente mobilizam muito poucos eleitores (e militantes)..4.ª prioridade: os desafios de próximos orçamentos.Um dos debates mais interessantes na sua formulação, promovido durante as jornadas parlamentares socialistas, foi aquele que juntou três especialistas em finanças públicas para discutirem os desafios que se colocam na elaboração de orçamentos futuros - o PS prepara-se assim para ir discutindo já as bases de um próximo governo, que espera liderar, contando com apoios parlamentares à esquerda ou não..Aquilo que Eduardo Paz Ferreira, Vítor Escária e Efigénio Rebelo disseram não deixa os socialistas dormir descansados. Os professores universitários alertaram os deputados do PS para a incerteza do cenário internacional nos próximos anos, que irá obrigar o país a preparar orçamentos num contexto de uma estreita margem orçamental e que aconselha uma linha de prudência, por causa da instabilidade do executivo italiano, do Brexit, ou o agravamento da guerra comercial entre os Estados Unidos e a China. Tudo aquilo que BE, PCP e PEV gostam pouco de ouvir..Vítor Escária, ex-assessor de António Costa, deixou ainda um outro recado ao PS: "É melhor não voltar a fazer um cenário macroeconómico a quatro anos, porque isso é mau do ponto de vista eleitoral", disse, referindo-se ao documento que os socialistas prepararam antes das eleições de 2015 pela mão de Mário Centeno..5.ª prioridade: descentralização.A presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, deixou um elogio a António Costa, nas jornadas do PS, garantindo que o primeiro-ministro "vai ficar na história pela descentralização", "por fazer a maior transferência de competências" para as autarquias. Mas deixou também a nota de que os autarcas "agradecerão o reforço das verbas", uma vez que "há muito que a lei das finanças locais não é cumprida"..A "pedra angular da reforma do Estado", como lhe chamou insistentemente Costa, já está em marcha, com todos os diplomas setoriais aprovados, mas falta conquistar os municípios - que exigem um envelope financeiro que corresponda às competências transferidas (e o PCP e PSD têm sido muito críticos neste ponto)..Com a descentralização no caminho, há quem não esqueça a regionalização. Já no encerramento das jornadas, o presidente da federação socialista algarvia, Luís Graça, defendeu que o partido "não pode deixar de lutar pelas regiões administrativas".