"As pessoas que habitam as cidades sonham com o campo"
O leitor já não está acostumado a que o escritor escolha uma temática como a que descreve em A Cova. O viver no campo não está fora de moda na literatura?
Eu acredito que o desejo de escrever e a vontade de ser publicado não são a mesma coisa, nem estão necessariamente ao mesmo nível. É muito grande a quantidade de pessoas que escrevem e que o fazem com temáticas que estejam na moda, na esperança de que assim consigam ver publicado o que escrevem. Não é o meu caso, pretendo antes escrever sobre temas fortes e histórias verdadeiras, pareçam ou não ser do género de interessarem à edição. Também acredito com muita convicção no papel do leitor e a minha perceção é a de que não estão preocupados com as modas literárias, apenas têm fome de boa literatura.
Foi-lhe difícil escrever sobre uma questão tão complexa como é a da crueldade humana em relação aos animais?
Não posso dizer que não o tenha sido. No entanto, confesso, antes nunca percebera o quanto iria ser difícil a existência dessa componente emocional tão grande até ter terminado o livro. Foi nesse momento em que se finaliza o romance que a situação foi mais complicada. Contudo, não me posso queixar, porque se o tema que escolhi para escrever foi o de um homem que captura texugos com a ajuda de cães só poderia ser este o resultado. Uma vez que fiz essa escolha, era-me impossível assumir uma posição de cobarde e evitar a descrição dos detalhes dessa luta entre animais. A minha opção foi a de transformar o relato da ação o mais simples possível, deixando os leitores reagirem ao nível das emoções ao seu próprio modo em vez de os induzir a uma sensação pela forma como elaborava o texto. A única condição que me pus foi a de não ter uma escrita gratuita. Há uma grande diferença entre ser testemunha ocular e o voyeurismo.
Enquanto se lê A Cova perguntamo-nos se vive num lugar onde este tipo de caçada existe ou se foi necessário realizar uma pesquisa para perceber os contornos de como tudo acontece?
Eu nasci e cresci numa localidade da costa ocidental do País de Gales. Onde sempre residi, a não ser durante o tempo em que estive na universidade e durante uma estada de cinco anos na Escócia, onde trabalhei. Portanto, com esta vivência local, não tenho necessidade de procurar como é este lugar ou como se vive no cenário escolhido para a narrativa. Ambos, eu e a história, somos um produto desta região.