"As pessoas não deviam morrer assim". Papa alerta para impacto da pandemia nos mais velhos
O Papa Francisco alertou este domingo para o impacto da pandemia nas pessoas mais velhas, referindo-se a vidas "cruelmente descartadas", na sua nova encíclica 'Fratelli Tutti' (Todos Irmãos), que tem como temática central a fraternidade e amizade social.
"Vimos o que aconteceu com as pessoas de idade nalgumas partes do mundo por causa do coronavírus. Não deviam morrer assim. Na realidade, porém, tinha já acontecido algo semelhante devido às ondas de calor e noutras circunstâncias: cruelmente descartados", denuncia num texto divulgado pelo Vaticano e publicado pela agência Ecclesia.
O Papa admite que a "tragédia global" da covid-19 trouxe a consciência de que toda a humanidade "viaja no mesmo barco", fazendo cair as "múltiplas máscaras", mas revelou uma incapacidade de atuação conjunta.
Citaçãocitacao"Vimos o que aconteceu com as pessoas de idade nalgumas partes do mundo por causa do coronavírus. Não deviam morrer assim."
"A Covid-19 deixou a descoberto as nossas falsas seguranças. Por cima das várias respostas que deram os diferentes países, ficou evidente a incapacidade de agir em conjunto", diz o Sumo Pontífice.
Francisco espera também que a resposta à crise sanitária não conduza a um aumento do "consumismo febril" e de "novas formas de autoproteção egoísta".
Referindo-se aos meses de confinamento devido à pandemia, o Papa lamentou que apesar de muitas pessoas viverem "hiperconectadas" se tenha verificado uma "fragmentação" que tornou mais difícil resolver problemas que afetam todos.
A nova encíclica foi apresentada pelo Papa Francisco no Vaticano, este domingo, após a oração do Ângelus.
Twittertwitter1312712830102245376
Para Marcelo Rebelo de Sousa, a nova encíclica do Papa é um documento de uma "coragem ilimitada" que mostra que a Igreja "não se acomoda".
Num texto de opinião publicado no jornal digital 7 Margens, dirigido por António Marujo, o Presidente da República, católico praticante, escreve que a Encíclica Papal universalmente divulgada este domingo "é um grito brutal e, ao mesmo tempo, a expressão de um poder mobilizador como nenhum dos sucessivos documentos do Papa Francisco".
Uma encíclica que "arranca da Fé cristã, mas se abre a todas as militâncias conscientes dos riscos do tempo presente" com uma "coragem que implica que o testemunho dos crentes não seja matéria privada, mas de intervenção pública, que tenham o dever de intervir para provocar ou apoiar a mudança num sentido da solidariedade ou, como diz, da amizade social".
Para Marcelo este documento é "um sinal de que a Igreja Católica não se acomoda, não transige com as modas de fechamento e de egocentrismo destes tempos", antes seguindo a "linha da mensagem radical do Evangelho da opção preferencial pelos deserdados na economia, como na sociedade, como na política".
'Fratelli tutti' é a terceira encíclica do pontificado do Papa Francisco, após 'Lumen Fidei' (A luz da fé), em 2013, e 'Laudato si', em 2015, sobre a ecologia integral.
No sábado, Francisco assinou junto ao túmulo de Francisco de Assis a nova encíclica, o 299.º documento do género na história da Igreja Católica.
Segundo a agência Ecclesia, a encíclica - tradicionalmente assinada no Vaticano - é o grau máximo das cartas que um Papa escreve e a expressão 'Fratelli Tutti' remete para os escritos de São Francisco de Assis, o religioso que inspirou o líder dos católicos na escolha do seu nome.