As novas estrelas Michelin apostam no peixe e marisco para brilhar na cozinha

Bela Vista e Gusto by Hein Beck entraram para a lista de restaurantes eleitos pelo guia gastronómico. Os seus <em>chefs</em> apostam no melhor que o Algarve oferece. O percurso foi diferente: um fez uma formação profissional e trabalhou em casas de excelência; o outro aprendeu com um dos grandes <em>chefs</em> da atualidade
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"Vamos pescar com os clientes e depois cozinhamos com eles"

Bela Vista João Oliveira recebeu a primeira estrela Michelin. Aos 30 anos, o chef que gosta de viajar e provar a comida de outros países tem palmarés de respeito

"A nossa equipa está muito forte, somos muito unidos, até mesmo quando jogamos futebol, todas as semanas, contra equipas de outras cozinhas e hotéis." A frase ilustra de forma perfeita a homenagem que João Oliveira, um dos dois chefs a ganhar na quarta-feira pela primeira vez uma estrela Michelin, presta a quem trabalha com ele na cozinha do restaurante do hotel Bela Vista, na Praia da Rocha (Portimão).

A união de uma equipa de 16 elementos que está junta há cerca de três anos é destacada por este natural de Valongo, que aos 30 anos é já uma das referências nacionais no setor. "Este prémio não vai alterar em nada a linha que estamos a seguir, é sim um incentivo para a equipa estar cada vez mais motivada", adiantou ao DN.

O percurso de João Oliveira - que tal como Daniele Pirillo (chef residente do restaurante Gusto, do hotel Conrad Algarve, em Almancil, chefiado por Heinz Beck) entrou esta semana para o lote de chefs em Portugal cujo trabalho é distinguido pelos inspetores do Guia Michelin - começou em 2006, quando acabou a formação na Escola Profissional Infante D. Henrique, no Porto.

Desde então esteve seis meses no restaurante DouroIN, e depois passou pela Casa da Calçada, The Yetman (detentor de uma estrela Michelin), Vila Joya (duas estrelas) e em 2015 abraçou o projeto do Bela Vista Hotel.

E qual o segredo para esta eleição, que o levou a entrar num lote onde estão agora 23 restaurantes? "Procuro saber junto dos fornecedores como é que estão os produtos. E se me dizem que o estado do mar permite que apanhem uns robalos ou umas douradas, é com base nisso que eu e a minha equipa programamos as refeições", explicou ao DN, frisando que Portugal é um "país privilegiado no que diz respeito à qualidade dos alimentos. E até pela proximidade do hotel ao mar, pois está junto ao areal da Praia da Rocha, há um gosto especial pelo peixe. "Temos um menu só com produtos do Algarve, o Menu Mar e Sustentabilidade, só com peixes, bivalves e legumes", contou. Destaca ainda o "carinho" pelos clientes com um exemplo: "Os talheres são de prata." Um trato especial que não se esgota à mesa: "Temos algumas atividades extra, por exemplo, vamos à pesca de barco com os clientes. Depois, também com eles, vamos arranjar e cozinhar o que pescamos."

Perante tanta atividade, João Oliveira diz ainda ter tempo para ir ao ginásio e correr. Quanto ao que mais gosta de fazer a resposta sai fácil: "Viajar com a família e provar a gastronomia que se confeciona em outros países."

"Temos em Portugal tudo para sermos felizes na cozinha"

Gusto by Hein Beck Daniele Pirillo é o chef residente deste restaurante que ganhou uma estrela Michelin. Aposta na junção das massas com o marisco e o peixe

Daniele Pirillo gere uma pesada herança na cozinha do Gusto by Hein Beck, o restaurante do Hotel Conrad (na Quinta do Lago, em Almancil) que recebeu esta quarta-feira pela primeira vez uma estrela Michelin. O italiano Pirillo é o chef residente numa cozinha onde tudo o que ali é feito foi aprovado por Heinz Beck, mestre da gastronomia que tem três estrelas com o seu restaurante La Pergola, no Waldorf Astoria Rome Cavalieri.

Aos 31 anos, Daniele está pela primeira vez a trabalhar fora da sua Itália natal e não se arrepende de estar em Portugal, a paragem que se seguiu à aprendizagem na incubadora do mestre que tem como hábito lançar os ajudantes em aventuras internacionais.

Em Almancil, a aposta é nas massas italianas, mas adaptadas à gastronomia portuguesa com a presença certa no prato dos tesouros do mar algarvio. "Consigo surpreender os clientes com massas, mas sem nunca esquecer o pescado e marisco fresco do Algarve", explicou ao DN o chef, que não esconde o gosto pela profissão. O que se pode, mesmo, ver ao vivo. É que Daniele trabalha num espaço que engloba uma garrafeira de vidro e uma cozinha aberta. É o maestro que dirige a orquestra de cozinheiros e pasteleiros, onde todos correm mas ninguém se choca, todos têm um papel que sabem de cor.

Num dos lados é para a sala de jantar que a cozinha, polvilhada de bancadas, se abre. E daí consegue ver-se uma zona privilegiada do hotel, a piscina. Lá fora a paisagem inspira com tons mais frios, azulados, no interior da sala, contígua à cozinha, predominam as cores quentes. Há candeeiros redondos, suspensos no teto, amarelos, e em cima das mesas as toalhas são vermelhas. É o cenário perfeito para um restaurante que surpreende, como conta. "Recebo muitos turistas italianos que dizem estar surpreendidos, porque não sabiam que se comia assim tão bem em Portugal." E reforça aquela que é a sua convicção: "É uma questão de tempo para a gastronomia portuguesa se afirmar ao mundo porque Portugal está a crescer e da maneira mais correta. Com boa formação profissional e mantendo vivas as tradições da região. Por isso vai crescer muito mais."

Qualquer conversa de Pirillo não foge do tema comida e do privilégio que é trabalhar no país: "Temos aqui excelentes produtos da serra, do mar, hortícolas, enfim, o que é preciso para sermos felizes numa cozinha." Por tudo isto tem uma certeza: "Mais cedo ou mais tarde vamos ver um restaurante ser galardoado com as três estrelas Michelin [neste momento Portugal tem cinco restaurantes com duas e 18 com uma]."

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