A campanha eleitoral ainda não começou oficialmente em Espanha mas as sondagens já apontam uma tendência clara: o partido que mais cai nas intenções de voto é o Ciudadanos de Albert Rivera..Um em cada três eleitores que votaram nesse partido nas legislativas espanholas de 28 de abril está arrependido, indicou uma sondagem Sigma Dos, que foi divulgada nesta segunda-feira, pelo jornal El Mundo. Segundo este estudo, a formação nascida contra a independência da Catalunha desce de 15,9% para 10,1% e de 57 deputados para 24..Outra sondagem, realizada pelo Gad3 para o jornal ABC, também divulgada nesta segunda-feira, aponta para uma queda do Ciudadanos de 15,9% para 11% e de 57 deputados para 29. Os mesmos do que o Vox, partido de extrema-direita, que entrou no Parlamento espanhol nas últimas legislativas e que agora até promete crescer nas legislativas de 10 de novembro - as quartas eleições no espaço de quatro anos em Espanha..Setenta e três por cento dos eleitores daquele partido de centro-direita, refere o estudo de opinião Sigma Dos, quer que Rivera apoie Pedro Sánchez para primeiro-ministro, caso o PSOE volte a ganhar as eleições. Como aconteceu no escrutínio de abril. No de junho de 2016 e no de dezembro de 2015 ganhou o PP. Mas nunca ninguém teve maioria absoluta. O que suscitou o impasse político que ainda hoje se mantém. Com a crispação que é conhecida. Pelo meio, tensão, debates e troca de acusações infindáveis sobre temas como a exumação de Franco ou a independência da Catalunha..Face às sondagens, Albert Rivera, de 39 anos, ofereceu-se no sábado para levantar o veto a um governo PSOE. Isto depois de, na campanha anterior, ter dito que estabelecia um cordão sanitário à volta do PSOE. "Temos de nos encontrar para pôr o que nos une acima daquilo que nos divide", disse Rivera, num comício em Madrid. "Telefonarei ao PSOE e a Pedro Sánchez para nos sentarmos a conversar e a falar de reformas. Se os espanhóis decidirem que é Pedro Sánchez que deve governar e nos enviarem para a oposição, o meu compromisso mantém-se: apoiarei as reformas de Estado apesar de não governarmos", declarou, deixando de lado uma coligação com o PSOE, mas abrindo as portas a um acordo parlamentar. E não descartando também, ao mesmo tempo, uma coligação com o PP de Pablo Casado.."Não quero estar num governo com Sánchez, mas comprometo-me a desbloqueá-lo", voltou a sublinhar, nesta terça-feira, Rivera, em entrevista à rádio Onda Cero. Tem sido assim, quase sempre, a postura de Rivera, apoiando uns e outros, à vez ou ao mesmo tempo, para tentar chegar ao governo. Ambicionou ser líder da oposição. Ambicionou ser primeiro-ministro. Até agora nem uma coisa nem outra..Entretanto, Rivera fez na segunda-feira um outro anúncio, através do Twitter. O de que o Ciudadanos vai concorrer a 10 de novembro coligado com a União, Progresso e Democracia (UPyD) como, aliás, já aconteceu nas europeias de maio. "O Ciudadanos junta-se à UPyD numas eleições cruciais para o constitucionalismo e incorpora assim o talento destes profissionais na formação laranja", escreve o líder do Ciudadanos, na sua conta naquela rede social.."O pânico faz milagres", afirmou o primeiro-ministro em funções e líder do PSOE Pedro Sánchez, instado a reagir ao fim do embargo do Ciudadanos ao seu partido. No rescaldo das eleições de 28 de abril, a combinação PSOE+Ciudadanos era a única que, matematicamente, tinha pernas para andar. Mas não foi possível. Rivera e Sánchez tinham trocado muitos insultos durante a campanha, com o primeiro a acusar o segundo de pactuar com independentistas e separatistas anti-Espanha, com o segundo a acusar o primeiro de se ter aliado, na Andaluzia, à extrema-direita racista, xenófoba e misógina..Na Andaluzia, após as eleições autonómicas de dezembro de 2018, o Ciudadanos fez um acordo com o PP para governar. Ambos contam com o Vox, partido de extrema-direita, liderado por Santiago Abascal. Todos juntos conseguiram pôr fim a décadas de domínio socialista naquela comunidade autonómica e tiraram do poder Susana Diaz, a até então presidente da Junta que apesar de ter ganho as eleições ficou longe da maioria absoluta..Curiosamente, quatro anos antes, foi com o apoio do Ciudadanos que Diaz tomou posse na Andaluzia. A lua-de-mel terminou em setembro de 2018, com o líder local do Ciudadanos, Juan Marín, a acusar Susana Diaz de faltar ao combinado. No mês seguinte, a dirigente socialista, outrora rival de Pedro Sánchez na corrida à liderança do PSOE, anunciava que os eleitores andaluzes iriam ter de ir mais cedo às urnas para eleger um novo Parlamento e um novo governo na autonomia..Fundado em Barcelona, em 2006, o Ciudadanos apresentou-se pela primeira vez a nível nacional nas legislativas de 2015. Teve 13,94% dos votos e elegeu 40 deputados. Nas de junho de 2016, realizadas por falta de entendimento para formar um governo de maioria, teve 13,06% e elegeu 45 deputados, tendo Rivera manifestado disponibilidade para viabilizar um governo do PSOE. A 24 de fevereiro de 2016, ele e Pedro Sánchez assinaram um pacto, que previa 200 medidas. O acordo visava o apoio à investidura de Sánchez como chefe do governo mas nada dizia sobre se o Ciudadanos entrava ou não no Executivo..Apesar disso, Sánchez falhou a investidura como primeiro-ministro e, em seguida, foi a vez de Mariano Rajoy tentar. O então líder do PP conseguiu ser investido, com a abstenção do PSOE, algo que, na altura, levou Sánchez a demitir-se da liderança dos socialistas espanhóis. E depois de fazer um acordo com quem? Com o Ciudadanos. Rivera e Rajoy assinaram a 30 de agosto um pacto com uma centena de medidas em troca do apoio à investidura do líder dos populares..O PP de Rajoy, sempre acossado pelos nacionalistas catalães, que fizeram, inclusivamente, um referendo ilegal em 2017, governou até metade de 2018. Até ser derrubado pela moção de censura de Pedro Sánchez. Este voltara entretanto à liderança dos socialistas depois de vencer as primárias do partido em maio de 2017. A moção de censura contra Rajoy obteve o apoio de 180 dos 350 deputados do Parlamento espanhol, entre os do PSOE, da Unidas Podemos de Pablo Iglesias, dos independentistas catalães ERC e PDeCAT e dos nacionalistas e separatistas bascos PNV e EH Bildu. Foi em junho de 2018. Sánchez tomou posse em seguida como chefe do governo..Contra a moção de censura estiveram o PP, obviamente, mas também o Ciudadanos de Rivera. Mas se Sánchez conseguiu ficar com o lugar de Rajoy, a verdade é que também não durou lá muito tempo, pois, em fevereiro deste ano, viu o Parlamento espanhol chumbar a sua proposta de Orçamento do Estado. Os nacionalistas resolveram cobrar o apoio que lhe deram na moção de censura. Como o socialista não cedeu naquilo que eles consideravam que devia ceder votaram contra. O mesmo fizeram o PP e, lá está, o Ciudadanos de Albert Rivera. E Sánchez caiu. Houve eleições antecipadas a 28 de abril..Nessa campanha, como já foi referido, Rivera, como líder de um partido nascido para lutar contra a independência catalã, não perdoou ao socialista o facto de ter andado a reunir-se e a dialogar com os nacionalistas da Catalunha. Mas aquilo que poderiam ser apenas diferenças políticas degeneraram em diferenças pessoais importantes. E, para alguns, irreconciliáveis. Ver-se-á se sim ou não depois das eleições de 10 de novembro. Rivera, em mais uma das suas metamorfoses, abriu agora a porta a um novo tipo de entendimento com Sánchez. Este não disse que não. Mas também não disse que sim. Prefere esperar pelos resultados da contagem dos votos nesse domingo eleitoral.