As liberdades não são uma pluma num chapéu

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A caminho da celebração dos 50 Anos do 25 de Abril, as liberdades fragilizam-se e os extremismos agudizam-se. No Parlamento, assistimos ontem a mais uma polémica entre o presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, e o líder da Iniciativa Liberal, Rui Rocha. Interpretações ideológicas e sociológicas sobre "O que é ser liberal" alimentaram um confronto desnecessário a propósito da vinda do presidente Lula a Portugal por ocasião das comemorações da Revolução de Abril, no próximo ano.

O presidente do Parlamento recordou que o convite foi "objeto de análise em Conferência de Líderes" e obteve um acordo que "mobilizou praticamente todo os grupos parlamentares". E que as sessões de boas-vindas "não devem ser confundidas com afinidades ideológicas. "Quer dizer isso que estamos de acordo com todas as opiniões expressas por esses chefes de Estado? Não, sejam eles o rei de Espanha, o presidente de França, do Brasil, de Angola ou qualquer outro. Significa que essas divergências de política nos impedem de tratar esses países e chefes de Estado com o respeito, o afeto, e até, no nosso caso, o amor que a História e o presente justificam? Não, não impede", rematou.

Não só não podemos apagar a História, como as liberdades - de opinião, expressão, imprensa, religião, pensamento político, etc. - não são uma pluma num chapéu de um Estado de Direito, são, antes, o próprio chapéu. Na contagem decrescente para essa data simbólica dos 50 Anos da Revolução, e que quase coincide com os meus 50 anos, o Diário de Notícias honrará a história da Liberdade não esquecendo a partilha do espólio histórico destes quase 159 anos do DN, cujo Arquivo foi considerado Tesouro Nacional.

O Arquivo DN é um legado que fica para todas as gerações, é uma forma de honrar a liberdade de imprensa e a nobre arte e missão de ser jornalista. Também por isso, todos os dias trazemos à estampa notícias e acontecimentos de há 100 anos - nesta edição, nas páginas 30 e 31. O pensador grego Heródoto, considerado o pai da História pelo filósofo Cícero, defendia que é preciso "pensar o passado para compreender o presente e idealizar o futuro". Convém não esquecer esse ensinamento, sob pena de nos perdermos na espuma dos dias ou em utopias.

Diretora do Diário de Notícias

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