O centenário da Revolução Russa deu origem a um revisitar das causas, remotas e próximas, dos acontecimentos de outubro de 1917 e da história que se seguiu até ao colapso da União Soviética..Conhecem-se hoje muito bem os resultados das experiências comunistas para que ninguém possa escudar-se na ignorância do que se passou..Todas essas experiências redundaram em regimes despóticos, em matanças de milhões de seres humanos, em pobreza generalizada. As mesmas nações divididas em Estados com regime comunista e democracias capitalistas alcançaram resultados bem diferentes: a Coreia do Sul é uma democracia adulta e um dos países mais prósperos do mundo, no Norte governa um déspota tresloucado com uma economia moribunda; as capitalistas Taiwan e Hong Kong foram oásis de prosperidade, enquanto a China de Mao vegetou na barbárie e na penúria. O contraste entre as duas Alemanhas antes da reunificação não podia ser mais evidente: a democracia política com economia de mercado que governou a parte ocidental do país teve o sucesso que se conhece, o Leste comunista manteve a sua população sequestrada até ao rompimento do muro e ao êxodo que se seguiu para o mundo da "exploração" capitalista. Não é de estranhar que o comunismo tenha praticamente desaparecido, mesmo no país dirigido pelo Partido Comunista - a atual China - que se tornou uma grande potência económica com as reformas liberalizantes de Deng Xiaoping. Mesmo quando comparamos o que se seguiu ao fim dos mandatos de dois ditadores - Pinochet no Chile e Castro em Cuba - os resultados mostram um Chile livre, pluralista e próspero e uma Cuba sem liberdade política e economicamente com décadas de atraso. Após a libertação do comunismo, países europeus que o sofreram continuam na cauda da Europa em rendimento per capita, como a Bulgária, a Roménia, mesmo a Polónia e a Hungria..Pela evidência das realidades, é preocupante assistir à defesa pelo PCP do legado de Lenine e Estaline. Defesa entusiástica, como ilustram algumas manchetes publicadas no DN: "Revolução de Outubro foi o maior acontecimento libertador" (Albano Nunes), "Revolução de Outubro: ideais e valores para o nosso tempo" (Jerónimo de Sousa)..No essencial, desculpam os "crimes" a que chamam "erros" com as boas intenções dos que os cometeram e consideram conquistas do comunismo os direitos sociais de que hoje gozam os trabalhadores..A verdade é que a democracia cristã, a social-democracia e os regimes de maior liberdade económica atingiram, para todos, patamares de bem-estar muito superiores aos conseguidos pelos regimes comunistas, mantendo as liberdades, o pluralismo e os direitos individuais..É irónica essa visão do passado comunista por parte de um partido de que depende a atual estabilidade política no nosso país. E seria importante não apagar da memória o curto período em que o PCP governou Portugal, em 1975, sem respeito pela vontade popular nem pelas liberdades fundamentais e tomou decisões na economia cujos efeitos negativos ainda perduram..Os portugueses perderam o controlo de importantes centros de decisão na banca, na energia, nas telecomunicações, na grande indústria. Enquanto a Espanha se libertou da ditadura de forma pacífica e por transição democrática e tem hoje grandes grupos de dimensão internacional em diversos setores, o 11 de Março de 1975 em Portugal tornou-nos pequeninos e dependentes..Felizmente para todos a democracia venceu, estamos na Europa e no euro e muito de positivo fomos conquistando..E não creio que uma ideologia tão marcada pelo fracasso em todas as frentes venha a ressuscitar..As preocupações dos que acreditam nas virtualidades da democracia liberal e da economia de mercado são hoje de outra índole. Os riscos para as sociedades que atingiram elevados padrões de bem-estar vêm do ressentimento acumulado em muitos homens e mulheres a quem a globalização e os extraordinários progressos tecnológicos deixaram à margem dos benefícios obtidos. Esse ressentimento há de encontrar organizações e líderes que o representem, que se reforçarão se as democracias não encontrarem as respostas e as soluções adequadas.