As férias da Dinamarca naquele verão de 92
Sempre me fascinou aquela história de 1992, aquele conto de fadas que podia ter sido escrito por Hans Christian Andersen, mas cujo enredo foi construído por outras pessoas.
Um selecionador (Richard Moller Nielssen) é contactado pela sua federação (Dinamarca) a informá-lo de que tinham sido repescados para participar no Europeu, por exclusão da Jugoslávia. Tinha uma semana para juntar as tropas (23 jogadores) e zarpar até à Suécia.
Rezam as crónicas que toda a gente foi apanhada de surpresa, estavam todos de férias, alguns em paraísos distantes. Foi tudo feito quase da noite para o dia e numa semana as tropas estavam juntas. E estavam tão unidas que foram até à final e ganharam.
Afinal, a coisa não foi bem, bem assim. A federação dinamarquesa tinha a informação de que a UEFA podia punir a Jugoslávia e que a sua seleção seria chamada a qualquer altura. Há uma confissão recente de Kim Vilfort (um dos 23 heróis) à BBC a confirmar isto mesmo.
Mais. Talvez por essa possibilidade ser forte, a Dinamarca tinha um jogo particular agendado com a CEI (Comunidade do Estados Independentes da Rússia) precisamente para uma semana antes do Europeu. Ou seja, a maioria dos jogadores não estava ainda de férias, apesar de alguns acreditarem que em breve iriam estar.
E assim foi. Na fase de grupos a Dinamarca foi apurada no segundo lugar após um empate com Inglaterra, uma derrota com a Suécia e uma vitória sobre a França. Nas meias-finais despacharam a Holanda no desempate por penáltis e na final venceram os alemães em Gotemburgo. Só então, depois deste dia 26 de junho, foram de férias. E felizes, suponho.
"Podíamos falhar à vontade porque não existiam expectativas. Mesmo que tivéssemos perdido os primeiros três jogos por 5-0 ninguém se iria importar. Jogávamos sem qualquer pressão porque nós próprios achávamos que iríamos mais cedo para casa", resumiu Vilfort, autor do segundo da Dinamarca na final frente aos germânicos.