"As falências, sempre muito duras, podem ser saídas menos más"

João Veloso, professor auxiliar de Línguas e Literaturas na Universidade do Porto, viveu e deu aulas em Porto Rico.
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Declarar falência é a melhor solução para Porto Rico?

Não sou economista. Por isso, é-me difícil responder com exatidão técnica a perguntas como esta. Mas penso que as falências, sempre muito duras e negativas, podem ser saídas menos más. Fazer um reset das contas públicas - "matando" uma dívida impagável que só traz austeridade, exclusão social, economia paralela, pobreza, tensões - pode dar algum alívio e perspetiva de futuro ao povo de Porto Rico. O estatuto jurídico particular da ilha traz problemas técnicos específicos a tal solução.

Enquanto a crise financeira não se resolve, a população porto-riquenha continua a sair da ilha. Há forma de travar este êxodo?

É muito difícil. Já muito antes da crise, muitos porto-riquenhos (que são cidadãos dos EUA) tinham o objetivo de viver nos Estados Unidos. Diz-se que Nova Iorque é a maior cidade de Porto Rico: tem mais porto-riquenhos do que San Juan [a capital de Porto Rico]! A incerteza, o desemprego, os cortes nos salários, a deterioração do sistema social só vieram acentuar uma realidade que não é de agora. Porto Rico precisa, como todos os países nesta situação, de políticas de investimento favoráveis à atividade económica, à fixação da população, ao aumento da riqueza e do nível de vida das pessoas. Sem isso, é um país condenado a uma desertificação difícil de combater e reverter. Também aqui os Estados Unidos têm uma palavra a dizer.

Com a continuação da crise reforça-se o debate sobre a integração do Porto Rico como 51.º estado dos EUA. Seria a melhor solução?

Sempre disse que a pior solução é a do statu quo atual, em que Porto Rico nem é um país nem é um dos estados dos EUA. Simbolicamente e do ponto de vista prático, a soberania plena ou a obrigação legal de Washington não fica apenas "com a parte boa" de Porto Rico, assumindo os lucros e os riscos, seria algo mais "adulto", mais "digno". Não vou dizer qual é, para mim, a melhor solução destas duas. Os porto-riquenhos terão de se decidir definitivamente sobre a questão, abandonando de vez esta "meia solução", que só traz indefinição e impasses.

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