"As crianças agarravam-se umas às outras para sair da água". Pânico em Vigo

As testemunhas e vítimas do colapso da plataforma relatam momentos de pânico quando o chão de madeira cedeu no passeio marítimo da cidade galega. Há 330 feridos mas nenhum é português
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Caos, pânico e desorientação. Foram assim os primeiros momentos após a queda da plataforma de madeira no Passeio Marítimo de Vigo no domingo à noite. Com centenas de pessoas em cima do passadiço para assistir a um concerto do festival O Marisquiño, a estrutura cedeu e muitas vítimas caíram à água. Há 330 feridos, cinco deles em estado grave. A maioria dos feridos são jovens, muitos deles menores. Não há registo de portugueses entre as vítimas, assegura a Secretaria de Estado das Comunidades.

Foi o primeiro concerto para Maria, adolescente que foi acompanhada por uma amiga, e agora está hospitalizada. "O chão desapareceu no meio e só ficaram as pontas. As crianças agarravam-se umas às outras para sair da água", contou, num relato transmitido pela sua mãe Aurora Rodríguez, que ficou em sobressalto quando o telefone tocou com a notícia. "Isto não é normal, aconteceu tudo em segundos. A minha filha está com amnésia, está muito assustada", disse aos jornalistas no hospital Álvaro Cunqueiro, em Vigo, para onde a maioria dos feridos foi transportada.

Os testemunhos de vítimas, ou de pessoas que estavam no local e escaparam sem ferimentos, dão conta de momentos de pânico quando o passadiço em madeira cedeu. Foi a confusão geral.

"Não se podia respirar"

"A avalancha foi... terrível, não se podia respirar", relata Marta Vidal, de Vigo. A jovem de 20 anos tinha acabado de mudar de sítio para assistir ao concerto por não se sentir segura. "Por cinco minutos, não caímos...", recorda. Conta, num relato ao El Mundo, que após o incidente perdeu de vista os amigos. "Nem sabia o que estava acontecendo. A minha prima caiu à água, perdeu os sapatos, ficou toda molhada e acabou por ter um ataque de ansiedade", contou, acrescentando que "uma amiga, com o impacto, perdeu o telemóvel e tudo o que tinha e as pessoas começaram a cair sobre ela. Nem sabíamos onde ela estava."

"Uma questão de segundos"

"O chão desceu como um elevador. Foi uma questão de cinco segundos. Todos caímos e tive problemas para sair. Tentei sair e escorreguei, o meu pé ficou preso. Um rapaz agarrou a minha mão e eu consegui sair. Havia uma menina com sangue na cabeça ", contou Aitana Alonso.

A amiga Alicia relata que nem se tinha apercebido que a plataforma estava sobre a água. "Toda a gente entrou em pânico, todos queriam sair. As pessoas agarravam-se e eu não sabia que havia água por baixo, só percebi quando o meu pé tocou na água. Vi pessoas saindo com crianças nos braços. Foi horrível, o caos, pânico..., Tive de procurar o meu irmão e foi um alívio quando ele apareceu."

"Muitas crianças a chorar"

"Estávamos tranquilos de repente e o chão cedeu. O espetáculo tinha acabado de começar e eu o meu amigo caímos à água, mas conseguimos subir com alguma facilidade. Mas muitas pessoas ficaram presas na água porque caíram umas sobre as outras. Foi horrível, havia muitas crianças a chorar, pais preocupados, depois a chegada da polícia, das ambulâncias", adiantou Anton, jovem de Vigo ao Jornal La Region.

Falha estrutural

A queda da plataforma de madeira terá tido origem numa falha estrutural e não num problema de manutenção, segundo o presidente da Autoridade Portuária de Vigo. Iirá ser realizado nas próximas horas um estudo técnico para esclarecer o que aconteceu e verificar o estado de toda a estrutura, a fim de impedir que algo semelhante possa acontecer novamente, afirmou Lopez Veiga, em declarações à agência espanhola Efe. A estrutura já era contestada em Vigo pela insegurança que muitos consideravam ser notória.

O presidente da Autoridade Portuária de Vigo lembrou que o Porto apenas disponibiliza o terreno e que o controle da capacidade corresponde à organização. A investigação irá determinar a causa do acidente que ocorreu na noite de domingo para segunda-feira num concerto do 'rapper' Rel B que decorreu no festival de desporto e música urbana em Vigo, na província espanhola da Galiza. O estudo irá também verificar se houve um excesso de pessoas na plataforma, que poderia ter causado a queda da plataforma.

A organização do festival assegurou, em comunicado, que os concertos programados para este festival "cumpriam as condições de segurança exigidas pela legislação". Os organizadores do festival lamentam "profundamente" o acidente e manifestam a sua solidariedade "com todos os feridos e as suas respetivas famílias", afirmando que são "a prioridade absoluta para todos". Destacam ainda no comunicado "o civismo demonstrado pelo público, que abandonou o recinto de forma ordenada e permitiu o trabalho das equipes de resgate e segurança", que, sublinham, realizaram "um grande trabalho".

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