As canções apócrifas de Željko

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Pode ter sido azar. Duplo. Mas o sérvio Željko Joksimovic pode queixar-se do árbitro, em 2004, e dos poderosos adversários em 2012. Estará para o Festival da Eurovisão como a seleção da Holanda para o Mundial de Futebol: sempre por uma unha negra, quase-quase lá, mas a verdade é que a Oranje nunca consegue vencer uma final global. Lane Moje, a segunda classificada da edição de 2004, é uma canção que ainda hoje me acompanha na vida. Há ali um traço de jugonostalgia. A balada balcânica perfeita. Foi dos poucos segundos classificados que terminaram bem acima dos 200 pontos. Os fãs da Eurovisão, em sucessivas votações, acreditam que foi um dos melhores temas de sempre da competição. Porventura o melhor. A verdade é que ŽŽeljko foi convidado a compor a canção da Bósnia em 2006, a da sua Sérvia natal em 2008 e a do Montenegro em 2015. Contudo, a sua derradeira tentativa como interprete ocorreu em 2012. Acabou em terceiro. O nosso desconhecimento da língua, algum preconceito ocidental antissérvio e a estética etnobalcânica podem ter atrapalhado o que pareciam vitórias merecidíssimas em Istambul, primeiro, e em Baku, anos mais tarde. Hoje, sempre que assisto na TV a uma partida de ténis com Novak Djokovic, lembro-me de ŽŽeljko Joksimovic. E não pelos troféus alcançados, incomparáveis: mais pela idolatria de Željko que pude constatar numa viagem de trabalho ao Montenegro no ido julho de 2005. Ele encarnava um certo mundo que muitos temiam estar em vias de extinção. Lane Moje, como todas as excelentes canções de Željko, estava destinada a ser apócrifa na Europa. Jamais nos Balcãs, porém. Fosse o fado uma gramática pan-europeia, o Sr. Joksimovic seria conhecido como uma variante do nosso grande Fernando Maurício: Rei sem Trono.

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