Muito merecido, o prémio de realização atribuído a João Pedro Rodrigues no Festival de Locarno. O Ornitólogo é um trabalho de grande fôlego criativo, enigmático e sedutor, capaz de conduzir o espetador nos mais misteriosos lugares de uma floresta que, no todo, convoca a estranheza maiúscula.
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É um universo visceral. Rituais, vozes, sombras: tudo isto vai atormentar o nosso protagonista, Fernando (Paul Hamy), um ornitólogo cujo caiaque foi arrastado numa corrente fluvial, naufragando, no dia em que desfrutava da agradável solidão de observar as aves de Trás-os-Montes. Resgatado por duas peregrinas chinesas, como se ressuscitasse, neste filme de milagres, ele abre os olhos para uma realidade que lhe vai parecendo cada vez mais obscura e instintiva.
A aventura na natureza transcendente começa aí, com o realizador a surgir como seu duplo, em diversos momentos.
João Pedro Rodrigues tem um fascínio pessoal pela observação de pássaros, e se é com este registo científico que o filme começa, o certo é que depois disso são as aves que vigiam a metamorfose do ornitólogo na paisagem natural.
Classificação: ****