As autárquicas, a geringonça e o PSD

Publicado a
Atualizado a

As milhares de eleições que são as eleições autárquicas têm sempre uma leitura nacional. É normal que assim seja. No fundo, os partidos que têm mais votos, mais câmaras, mais freguesias mostram que sabem gerir e representar melhor as populações. São partidos e movimentos locais ligados à grande política, a que conta, a que mais ligada está à vida quotidiana do cidadão.

As próximas não fogem a essa condição, mas são muito mais influenciadas do que o costume pelos jogos de poder a nível nacional.

O melhor exemplo é a relação PS/PC. As câmaras que o PC preside têm todas como principal concorrente o PS, e apesar de sabemos que as estruturas partidárias locais têm dinâmicas próprias, um valor mais importante se levanta: a estabilidade da geringonça. Um dos pilares fundamentais do poder dos comunistas (com a CGTP) é o autárquico e uma leve, que fosse, ameaça a esse status quo traria consequências imprevisíveis mas de certeza funestas para os acordos nacionais entre PS e PC. Não perturbar a estabilidade interna do PC é muito mais importante para o PS do que disputar Loures, Almada ou o Seixal.

O CDS - fora o aproveitamento das fragilidades do PSD em Lisboa para obter vantagens na ocupação do espaço do centro-direita - e o BE não contam para estas eleições.

Resta a outra grande força autárquica: o PSD.

Não poucas vezes, as autárquicas têm uma dose - maior ou menor, dada a conjuntura - de voto de protesto. As últimas foram um bom exemplo. O PSD teve uma enorme derrota causada muito mais pela governação do que pela qualidade dos seus autarcas - que o atingir do limite de mandatos ainda fez piorar.

Não parece, dada a fasquia estar tão baixa, que na noite eleitoral o PSD venha chorar uma derrota. No entanto, se olharmos para a forte probabilidade de só cinco dos vinte maiores municípios em população continuarem a ser PSD, que no Porto existe o risco de o candidato ter das mais baixas votações de sempre e de em Lisboa ou não ter candidato ou ficar atrás do CDS (e não há quem ignore que Lisboa e Porto têm sempre um peso especial na leitura dos resultados), digamos que será uma noite eleitoral complicada. Não só por se ir gerando a ideia de que o partido não está a conseguir atrair boa gente, como, sendo o poder autárquico uma das grandes forças do PSD, a manutenção deste estado de coisas pode gerar interrogações sobre a forma como o partido está a ser conduzido.

Não havendo grandes alterações no cenário político e, sobretudo, económico, a noite eleitoral para o PS e PC nada trará de novo. A do PSD não será de facas longas, mas muito provavelmente será o princípio do fim desta direção dos sociais-democratas.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt