Que alternativas para enfrentar o bloco da esquerda que se reuniu em 2015 ou, nas palavras usadas pelo Movimento Europa e Liberdade (MEL), o "espaço da extrema-esquerda e do socialismo radical"? E que líderes para congregar o espaço da direita? Em torno de que projeto?.Depois da polémica que rodeou a primeira edição, o Movimento Europa e Liberdade (MEL) iniciou ontem e encerra hoje a sua segunda convenção, juntando os vários líderes políticos da direita - do CDS à Iniciativa Liberal, passando pelo Chega e pelo Aliança. Como já aconteceu no ano passado, Rui Rio não marcou presença (por dificuldades de agenda), mas desta vez esteve representado por Paulo Mota Pinto, presidente da mesa do congresso. Sinal dos tempos: na edição anterior, os sociais-democratas estavam representados por uma mão-cheia de protocandidatos à liderança..Outro sinal dos tempos é a presença de André Ventura, que no ano passado não foi convidado, facto que então agradeceu - "qualquer líder de direita e de centro-direita devia estar envergonhado de participar num movimento como este, é um favor que me fazem não me convidarem" -, afirmando então tratar-se de um movimento "que é uma inutilidade", "uma plataforma que não representa absolutamente nada". André Ventura é hoje um dos convidados de um painel de debate dedicado às "novas alternativas ao espaço da extrema-esquerda e do socialismo radical"..CDS fala para o PSD e pede um "líder agregador" para a direita.Congregar o espaço de centro-direita na procura de uma alternativa à esquerda é um dos desígnios assumidos desde o início pelo MEL. Francisco Rodrigues dos Santos, o novo líder do CDS que ontem abriu a II Convenção do movimento, ensaiou uma resposta claramente direcionada ao PSD, mas defendendo que o centro-direita precisa de um líder forte e capaz de agregar forças.."Mais do que federar, fundir ou coligar-se, o centro-direita tem de se reconhecer num líder agregador, e os partidos têm de se reconciliar com os eleitores e as suas bases sociais de apoio", defendeu o líder centrista, apontando ao ciclo eleitoral que terá o pontapé de saída no início do próximo ano, com as eleições presidenciais. Umas eleições em que a direita deve procurar "unir em lugar de fragmentar" - o que aponta para um apoio a Marcelo Rebelo de Sousa. Seguem-se as autárquicas, em que voltou a defender "listas comuns sempre que isso sirva o melhor interesse das populações e permita vencer eleições à esquerda". E, a fechar, as legislativas, em que deve ser construída "uma proposta de compromissos que ofereça aos portugueses uma sólida solução de governo"..Se esta resposta não vingar, outros o farão, advertiu o líder do CDS: "Se não nos encarregarmos de fazer a história da direita em Portugal, outros - porventura vindos das franjas, com voz de protesto - a farão por nós." "O populismo só pode ser combatido pelos partidos que, em lugar de falar ao povo, alimentando-se do seu descontentamento, se põem do seu lado e lhe oferecem soluções equilibradas", advertiu Francisco Rodrigues dos Santos, num aparente remoque ao Chega..PSD responde ao CDS: nem líderes nem unidade e direita também não.Paulo Mota Pinto, presidente da mesa do congresso do PSD, encerrou o primeiro dia de debate com uma intervenção de sinal contrário à do CDS. Onde o presidente do CDS vê a necessidade de um líder agregador, o dirigente social-democrata discorda - a questão "não é tanto a da procura de um chefe", "não é procurar uma pessoa ou personalidade, que aparecem espontaneamente, eles estão aí ou surgirão". Também "não é, não deve ser, para já, pelo menos, o da unidade, da união para o espaço à direita" do governo - "o problema não é tanto o da unidade desse espaço, mas o de o fazer crescer". "A convergência acontecerá se e quando necessária", sublinhou Mota Pinto..O dirigente social-democrata defendeu ainda que "o espaço político à direita do espaço socialista só cresce se apelar com credibilidade ao eleitorado, sem ruturas que o assustem", portanto "ao centro". "Por isso, temo-lo dito, não se trata de apresentar uma alternativa que seja de direita", mas "à direita" do espaço ocupado pelo PS..Paulo Mota Pinto também deixou um recado ao PS: "É o Partido Socialista que tem de governar, de criar ou recriar condições para isso junto daqueles que chamou para governar. Não procurem desculpas, portas de saída pelas traseiras, manobras de diversão ou passes de mágica que, aliás, não enganam ninguém.".MEL só fecha a porta a "partidos que são contra a Europa e defendem regimes totalitários".Nesta quarta-feira, o segundo dia da convenção do MEL, começa novamente com o CDS - desta vez na figura do ex-líder Paulo Portas (que já marcou presença na edição anterior), que falará sobre "Os desafios da nova globalização, da desglobalização e de Portugal". Num segundo dia dedicado ao tema geral "Refundação", destaque para o painel de debate dedicado às "novas alternativas ao espaço da extrema-esquerda e do socialismo radical", com moderação do jornalista José Manuel Fernandes, e que contará com a presença de Miguel Morgado (membro do MEL e ex-deputado do PSD), André Ventura, deputado e líder do Chega, e João Cotrim Figueiredo, deputado e líder da Iniciativa Liberal..Paulo Carmona, que, a par de Jorge Marrão, é um dos fundadores do MEL, explica o convite ao líder do Chega em função do facto de ser agora um partido (no ano passado era ainda "um movimento não oficializado como partido") que obteve entretanto representação parlamentar. "É uma força com que temos de dialogar, não devemos ostracizar o voto de milhares de portugueses", diz Paulo Carmona ao DN, acrescentando que o MEL só fecha a porta a partidos que são "contra a Europa e defendem regimes totalitários como a Venezuela, Cuba, Coreia do Norte" - leia-se Bloco de Esquerda e PCP. "São duas questões civilizacionais. Queremos juntar todas as forças que defendem a Europa e defendem a liberdade, que se opõem ao totalitarismo da extrema-esquerda e que podem obstar a essa extrema-esquerda", diz o dirigente do movimento, acrescentando que "pode haver opiniões que o deputado tem que só ele é que tem, mas o debate é essencial em democracia"..Quanto à troca de palavras que antecedeu a primeira convenção do MEL, há cerca de um ano, refere que houve algum "mal-entendido"..Paulo Carmona encerra hoje a convenção do MEL, que, ao contrário do que aconteceu no ano passado, não conta com uma intervenção final, que na edição anterior coube a Assunção Cristas. Curiosamente, a então líder do CDS encerrou os trabalhos deixando a porta aberta a uma coligação alargada no espaço de centro-direita, após as legislativas que se realizariam em outubro. E, antes da presidente centrista, já Pedro Santana Lopes, líder do Aliança, tinha defendido a criação de uma frente de centro-direita que permitisse retirar a esquerda do poder..Já a I Convenção do MEL, em janeiro do ano passado, ficou marcada por alguma polémica, que acabaria por levar à desistência de vários convidados da área socialista, caso de Francisco Assis ou de António José Seguro. Apontada como uma espécie de Estados Gerais da direita, a iniciativa coincidiu com a guerra aberta que estava em curso no PSD, em que os críticos recolhiam assinaturas para destituir Rui Rio. Pela Culturgest passaram então vários protocandidatos à liderança - de Luís Montenegro (o único que acabaria por avançar) a Pedro Duarte, passando por Miguel Morgado.