Artistas ocuparam Museu do Chiado pelo direito à cultura
A ocupação "artivista" foi incentivada por Rui Mourão que ontem inaugurou no museu a instalação multimédia Os Nossos Sonhos Não Cabem Nas Vossas Urnas e, durante a sessão, apelou aos convidados a participar numa ocupação pacifista da instituição.
O artista desafiou as pessoas para um ato que era ao mesmo tempo artístico e político. "Estamos aqui em ocupação 'artivista' do Museu Nacional de Arte Contemporânea. Estamos a ocupar o museu em defesa do museu e não contra o museu", disse o artista, na abertura da exposição, que procura demonstrar que o protesto político também é arte. A ação de protesto foi feita "em defesa do direito à Cultura", explicou à Lusa, Rui Mourão.
Alumas pessoas já vinham preparadas e munidas de sacos-cama, como num acampamento. Os ativistas realizaram uma assembleia que votou pela continuação da sua presença nas instalações do museu para além do horário de funcionamento. A manifestação terminou, mas algumas pessoas permanceram no museu durante a noite.
A organização divulgou este vídeo da ação:
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No início da sessão, o diretor do MNAC-MC dissera à Lusa que não estava a ver o seu museu ocupado. "Tratando-se de uma exposição de Rui Mourão, seria de estranhar que não houvesse nada", afirmou David Santos, enquadrando o protesto "numa reflexão que é absolutamente admissível e dentro de uma lógica artística". Mais tarde. David Santos, diria que esta não era "uma ação correta" e afirmou que o artista tinha quebrado a confiança.
O grupo de ativistas reuniu-se no átrio do museu, empunhando cartazes e gritando palavras de ordem. Entre outras reivindicações, o grupo exigiu a reposição de entradas gratuitas nos museus aos domingos e uma redução no preço dos bilhetes.
No seu Facebook, Rui Mourão publicou o manifesto lido durante a ação, onde explicava os seus motivos: "Neste sistema político-económico não dispomos de outras formas relevantes de fazer ouvir a nossa voz. Não nos chega votar de 4 em 4 anos e depois nada fazer durante os dias, meses, anos seguintes em que assistimos à destruição do setor cultural deste país. Quando a democracia representativa e formal não tem suficientes canais de escuta, partilha, participação e decisão que tenham em conta as nossas vozes, só nos restam atos como este."
Por isso, explica, "o objetivo desta noite passa por experimentar e difundir formas artivistas de obter uma voz na esfera pública com impacto suficiente para constituir os seus agentes como atores políticos".
Pelas 10.20 de hoje, a ocupação terminou. Numa conferência de imprensa realizada através das grades do Museu do Chiado, o porta-voz do grupo disse, sob anonimato, que decidiram acabar o protesto depois de terem sido "abordados por pessoas do museu". "Mediante essa abordagem decidimos sair, tendo em conta que foi exercida uma pressão sobre nós que consiste em responsabilizar-nos por possíveis represálias sobre a direção deste museu, em consequência da nossa ação", afirmou o porta-voz do grupo.
A instalação multimédia de Rui Mourão, que vai ficar patente até 28 de setembro, reúne dez "'performances artivistas' ocorridas em Lisboa entre 2009 e 2013, como uma única composição", e "metáfora da esfera pública", disse o artista à Lusa, quando da apresentação da mostra.
Com Os Nossos Sonhos Não Cabem Nas Vossas Urnas, o artista tem por objetivo demonstrar que as novas formas de protesto político, no espaço público, se cruzam de "forma significativa" com a arte. No início da sessão, Rui Mourão exigiu "mais dinheiro para a área cultural, artística e patrimonial". "Politicamente, enquanto público e enquanto criadores de cultura, estamos verdadeiramente indignados - muito indignados mesmo - com a desvalorização a que estão votados os museus, as bibliotecas, os arquivos, o teatro, o cinema, a dança, a ópera, as artes visuais, o património cultural deste país e a sua criação contemporânea", afirmou Rui Mourão.