Arriscar a vida no rio Tejo a troco de três euros por quilo de amêijoa

Os três homens que desapareceram sábado conheciam o rio mas avançaram depois do nevoeiro tapar tudo. Ficaram sem norte. Pescadores contam que os que vivem legalmente da apanha da amêijoa arriscam por quase nada
Publicado a
Atualizado a

João pescador, mais conhecido por "Peixe Peixe", tem o seu barco atracado na Praia do Norte, no Barreiro, em frente ao ponto de onde desapareceram dois dos três homens que foram à apanha da amêijoa no sábado. Pele tisnada pelo sol, boné com a bandeira portuguesa na cabeça e língua afiada, o "Peixe Peixe" já viu muita coisa aos 59 anos e não parecia surpreendido com a tragédia. "Eles foram às 7.00 da manhã de sábado para aguentar até às 9.30. Um camarada nosso esteve aí para ir com eles mas desistiu quando viu o nevoeiro a cercar tudo. Os três homens continuaram a andar na água porque perderam o norte e não viram a maré a encher".

Não viam nada porque a cortina de nevoeiro tapou tudo, do céu ao Tejo. As buscas decorreram ontem todo o dia, até às 18.00, mas sem resultados. O único corpo que apareceu foi logo no sábado, o do construtor civil do Barreiro de 53 anos que se dedicava à apanha da amêijoa como desporto. O mariscador lúdico foi pescar para Palhais, perto já do Seixal, e acabou "engolido" pelas águas e pelo nevoeiro. Tão perto estava de terra como os outros dois que se encontravam na Praia do Norte, no Barreiro.

O corpo do construtor civil foi localizado na praia Ponta dos Corvos, zona do Seixal. Os outros dois mariscadores ainda desaparecidos têm 41 e 47 anos. Os três homens eram da zona do Barreiro e já se conheciam por causa do hábito da apanha da amêijoa aos fins de semana. Iam de ancinho na mão e com água e lodo a dar pelos joelhos, sem medo das marés num rio traiçoeiro nos baixios.

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt