Passaram-se quase dois anos desde que o gabinete de arquitetura Barozzi / Veiga, de Barcelona, foi distinguido com o prémio Mies van der Rohe pela Filarmonia de Stettin, na Polónia. Hoje, a metade italiana desta dupla, Fabrizio Barozzi, inaugura a 3ª edição do ciclo Distância Crítica, uma parceria da Trienal de Arquitetura e do Centro Cultural de Belém, para falar do seu trabalho..Uma expressão sintetiza o que Barozzi, 40 anos, quer dizer à audiência sobre o trabalho que desenvolve há doze com o galego Alberto Veiga, de 43: "Monumentalidade sentimental". Foi este o título escolhido para a instalação que levaram à Bienal de Veneza, comissariada pelo arquiteto chileno Alejandro Aravena, em 2016, e, antes disso, de um "pequeno ensaio que resume esta filosofia de trabalho". Ao telefone com o DN, desde a cidade condal, o arquiteto explica-se. "Quando falas de monumentalidade falas irremediavelmente de abstrato, de algo autónomo, com as suas próprias normas, alheio a um contexto, é quase um ideal. Pelo contrário, se lhe juntas sentimental, é a aspiração a criar um vínculo íntimo com o contexto", continua. "É o que pretendemos que suceda nos projetos. Que sejam autónomos e abstratos, mas com algo que derive num vínculo mais íntimo com o contexto - físico ou cultural. Gostamos de nos mover entre estes dois extremos"..Uma pergunta óbvia impõe-se: o que mudou desde que receberam o mais importante prémio europeu de arquitetura? "Trabalhamos muito mais", responde, com uma gargalhada. "Com o tempo o prémio fez-se notar, porque o escritório teve mais reconhecimento e convites para participar em outros concursos. Passámos a uma fase em que nos convidam, o que antes não sucedia. Trabalhamos em maior escala, estamos a fazer coisas na Ásia, nos EUA e creio que grande parte destas possibilidades vieram do prémio", aceita. "O que gerou foi movimento, interesse e oportunidades que antes eram mais difíceis de encontrar.".Enfrentar todas as tipologias.Acabam de entregar as suas candidaturas para uma filarmonia em Munique, outra em Edimburgo e ultimam um terceiro concurso para a Ópera de Xangai, têm uma encomenda privada nos EUA, "que chegou através do prémio", recapitula. Sobressaem os edifícios culturais. "Fomos adquirindo experiência e é verdade que temos feito muitas propostas para filarmonias, mas o que nos interessa é enfrentarmos todas as tipologias", contrapõe o arquiteto. Lembra outros projetos, começando por um no seu país de origem. "Em Itália, estamos a fazer residências universitárias, equipamentos desportivos, uma pequena escola, uma casa...". O que nos interessa é enfrentar todas as escalas. Encontro interesse em todos, de uma pequena remodelação a uma ópera"..No CCB, numa conversa moderada pela arquiteta Ana Vaz Milheiro, Barozzi mostrará os projetos como a Filarmonia de Stettin, alguns dos primeiros trabalhos, a instalação da Bienal de Veneza, as intenções atrás de um projeto e projetos novos, como o museu de Chur [na Suíça], terminado no verão passado..Relembra-se uma frase de Barozzi ao DN, a propósito do projeto em Stettin, que o gabinete ganhou em 2007 e inaugurou em 2014. "Se chegássemos a saber o que se passaria nos oito anos seguintes, talvez não nos atrevêssemos". "Hóstia, é verdade", ri-se. "Os tempos dos projetos de arquitetura podem ser longuíssimos, requerem muita energia, muita constância", considera, lembrando um museu em Lausana, em que trabalham há sete anos, só agora em obra..Barozzi chega a Lisboa no momento em que outro gabinete espanhol, o catalão RCR, foi distinguido com o prémio Pritzker. "Há muitos arquitetos que trabalham muito bem", frisa. A arquitetura espanhola sofreu também uma mudança geracional, com a crise, emergiram muitos gabinetes novos". Esta época de escassez fomentou um recentramento de um certo tipo de arquitetura. "Em Espanha, o que aconteceu desde o início da crise, foi uma rejeição ao que se fazia antes e que era assumido como arquitetura icónica, feita por arquitetos estrela, uma rejeição a meu ver, demasiada, porque como em todas coisas, não há só branco e negro, também é cinzento. Como tudo, é preciso tirar o que de bom esta mudança tão repentina pode trazer". "Parece que só o que se faz com o básico e primário funciona, mas isso, talvez, esconda um risco, a ausência de uma certa experimentação"..[artigo:4583337]