Arnaldo Otegi sai da prisão com os olhos postos no cargo de 'lehendakari'

Acusado de querer refundar a Batasuna, ala política da ETA, quer lutar contra o impedimento de concorrer a cargos públicos
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Seis anos e meio depois de ter sido condenado por querer refundar a ilegalizada Batasuna, ala política da organização terrorista basca ETA, Arnaldo Otegi deixou ontem a prisão de Logroño às 08.55 (07.55 em Lisboa) aplaudido por cerca de 200 pessoas. Abraçou os filhos, a mulher e o pai, cumprimentou os amigos da esquerda abertzale (independentista) e depois subiu ao palco para o primeiro discurso em liberdade. "O melhor lehendakari [presidente do governo basco] é o povo", afirmou o independentista basco, não querendo confirmar o que dissera por e-mail ao The New York Times: que quer ser candidato às autonómicas bascas deste ano.

"Quando nos meteram na prisão, meteram-nos como bascos e é como bascos que saímos. Como independentistas, e como independentistas saímos. Como socialistas, e como socialistas saímos", lançou Otegi, pedindo a libertação dos outros presos e a independência. Em relação aos que negam a existência de presos políticos em Espanha, lembrou que não haveria tantas câmaras de televisão presentes na libertação de um preso comum.

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Detido em 2009 e condenado a dez anos de prisão e outros tantos de proibição de concorrer a cargos públicos pela Audiência Nacional, Otegi viu em 2012 o Supremo Tribunal reduzir a pena de prisão para os seis anos e meio, mas não a proibição de concorrer a cargos públicos antes de 2021. Há poucas semanas, o tribunal recusou um recurso sobre o tema, mas os apoiantes de Otegi - entretanto eleito secretário-geral do partido nacionalista basco Sortu- não desistem de o ver como candidato no final do ano.

Um precedente é o caso de Iker Casanova, condenado a sete anos e meio de prisão por pertencer à ETA, que só poderia voltar a exercer um cargo público em novembro de 2016. Contudo, desde 2014 que substituiu uma deputada do Bildu no Parlamento basco. No sábado, Otegi regressa ao velódromo de Anoeta (palco de alguns dos seus comícios mais famosos), havendo quem acredite que apresentará então a candidatura ao governo basco.

A vice-presidente do governo espanhol, Soraya Sáenz de Santamaría, disse que as autoridades vão ficar "muito vigilantes" em relação a Otegi, lembrando que é um "terrorista condenado" e que está "impossibilitado de concorrer a um cargo público até 2021".

A libertação foi assinalada pelo líder do Podemos, Pablo Iglesias, no Twitter, desencadeando uma acesa troca de palavras na rede social com o líder do Ciudadanos.

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(A liberdade de Otegi é uma boa notícia para os democratas. Ninguém devia ir para a prisão por causa das suas ideias)

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(Otegi foi condenado pela justiça por pertencer a um grupo terrorista. Detido pelas suas ideias estão @leopoldolopez [opositor venezuelano].)

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(Não exageres @Albert_Rivera que saíste do Parlamento catalão com o PP para não condenar o franquismo. Nós princípios, vocês marketing)

Mas Albert Rivera não foi o único a criticar Iglesias. Santamaría pediu "coerência" ao líder do Podemos dizendo que "não se pode defender os terroristas e não levantar a voz nos países para onde costuma viajar [numa referência à Venezuela], onde há pessoas fechadas apenas por defender as suas ideias e outras possibilidades de governo".

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