Arnaldo Matos proibiu Garcia Pereira de ir de férias
O mal-estar no PCTP/MRPP concretizado em 2015 já vinha de trás. Arnaldo Matos raramente aparecia, denunciam dirigentes que se demitiram do partido há um ano, mas o fundador do partido voltou a aparecer cada vez mais.
A subvenção estatal de cerca de 14 800 euros mensais, obtida com as eleições de 2011 (hoje é de cerca de 14 300) permitiu uma maior estabilidade ao PCTP, em termos de estrutura do partido, depois de anos de muito voluntarismo dos dirigentes (incluindo financeiro).
O descalabro chegou em março de 2015 com a campanha para as regionais da Madeira, terra natal de Arnaldo, que mandava ir e vir pessoas e mandou publicar o programa eleitoral num "livrinho", como fez agora nas eleições dos Açores. Estavam orçados 38 mil, 40 mil euros, foram gastos diretamente 58 mil euros, num gasto total de 70 mil, conforme explicou Domingos Bulhão, mandatário financeiro do partido.
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O DN pediu ao Tribunal Constitucional para consultar as contas anuais do PCTP/MRPP, dos anos de 2013, 2014 e 2015, e as das campanhas para o Parlamento Europeu em 2014; Madeira em 2015; Assembleia da República em 2015; e Açores em 2016. O TC recusou o pedido por não haver ainda acórdão final. Os últimos aprovados são de 2012.
O desgaste com as "manobras" do "ditador", como agora o classificam Domingos Bulhão, Carlos Arsénio (antigos membros do Comité Central) e António Lares (da comissão eleitoral de Sintra), que se colocava de fora, "emitindo opiniões", acabou por estalar no verão de 2015, em plena pré-campanha eleitoral. Arnaldo Matos - que nos anos quentes da revolução era apontado como "grande educador da classe operária"- impôs que ninguém fosse de férias. Mas ele próprio não se inibiu de gozar 15 dias de descanso.
Por e-mail, Arnaldo Matos manifestou o seu desagrado Garcia Pereira. "Se tu e os teus amigos do Comité Central pensam ir de férias antes de constituírem as listas dos 22 círculos eleitorais e de as apresentarem ao país, isso significa rutura total e definitiva comigo."
Não era ainda tempo de rutura. Um ano depois, o Comité Central do partido é um rodopio de entradas e saídas. A 30 de novembro de 2015, a 18 de abril deste ano e a 28 de outubro último, Carlos Paisana comunicou entradas e saídas ao TC. Diz-se que é dos humores de Arnaldo Matos.