Para a generalidade do público português, é uma espécie de terceira figura dos Tribalistas. Não goza do reconhecimento de Marisa Monte nem tem a exuberante figura de Carlinhos Brown e os créditos de compositor e poeta que acumulou à frente de uma das mais importantes bandas brasileiras da década de 80, os Titãs, não têm conversão garantida entre nós por falta de conhecimento. Nem mesmo as colaborações nos dois últimos álbuns dos Clã preencheram essa lacuna. Procedamos então às apresentações público português, eis Arnaldo Antunes, um dos mais estimulantes músicos brasileiros da sua geração, cantor de voz estranhamente agradável, umas vezes com o timbre médio anasalado de uma gripe mal curada, outras com o grave improvável de uma manhã de ressaca; Arnaldo Antunes, eis o público português, generoso mas ignorante da diversidade do teu trajecto, ansioso por cantarolar os êxitos dos Tribalistas. Encontro marcado para esta noite, pelas 21.00, no Grande Auditório do CCB..Na bagagem - que segunda-feira à noite transportará consigo para o palco do Rivoli, no Porto - o brasileiro traz Saiba, o sexto álbum de inéditos desde que se lançou solo em 1993. Sendo o sexto, está porém longe de ser apenas mais um. Desde logo porque com ele o músico retoma a carreira individual depois do sucesso colectivo dos Tribalistas, o projecto que desenhou com Marisa Monte e Carlinhos Brown, se tornou num fenómeno de popularidade e vendas em Portugal como no Brasil e acabou editado em 46 países..Mas não só por isso. Saiba é também um álbum diferente no percurso de Arnaldo Antunes e, não sendo tão bom como o anterior Paradeiro (2001) - provavelmente o seu melhor disco de sempre -, oferece uma porta fácil para descobrir a riqueza poética e musical do universo criativo deste concretista. Primeiro, porque nele Arnaldo Antunes privilegia o formato canção mais do que era seu hábito, dá repouso às guitarras pesadas de outrora e fica muito mais próximo do registo dos Tribalistas. Depois, também, porque a música que dá nome ao álbum está já gravada na cabeça de muita gente, ainda que na voz de Adriana 'Partimpim' Calcanhoto ("Saiba todo o mundo neném/ Einstein, Freud e Platão também/ Hitler, Bush e Saddam Hussein/ Quem tem grana e quem não tem...»).