Armas não se calam na Síria apesar dos apelos do Papa
Queda de Aleppo não fez cessar os ataques das forças do presidente Bashar al-Assad, apoiadas por Rússia e Irão, contra redutos rebeldes. Enquanto isso, a Turquia tem bombardeado posições do Estado Islâmico junto à sua fronteira, matando civis. Situações que levaram ontem o Papa Francisco a apelar "que as armas se calem definitivamente e que a comunidade internacional se empenhe ativamente".
Mas a queda de Aleppo trouxe também consequências mais agradáveis. A igreja maronita de Santo Elias celebrou ontem a missa de Natal pela primeira vez em quatro anos, já que os combates em Aleppo obrigaram o templo cristão a permanecer encerrado.
Parte do teto da igreja está destruído, assim como os bancos de madeira, mas os fiéis reuniram-se e celebraram a liturgia sentados em cadeiras de plástico, tendo entoado cânticos natalícios em árabe, inglês e francês, noticiou a EFE. Alguns muçulmanos também assistiram ao ato religioso nesta igreja construída em 1873.
De volta ao terreno, caças russos intensificaram este sábado os ataques aéreos contra a zona rural de Aleppo e várias cidades da província síria de Idlib, zonas ainda controladas pelos rebeldes, havendo registo de bastantes baixas, principalmente entre civis. Estes bombardeamentos surgem dois dias após o fim da retirada de todos os opositores do enclave que ainda detinham em Aleppo.
A província de Idlib tem sido alvo, nos últimos meses, de fortes ataques aéreos por parte dos russos. E o exército sírio já deu a entender que a sua próxima grande campanha, agora que já derrotaram os insurgentes em Aleppo, é retomar o poder na zona de Idlib, controlada por várias brigadas islamitas.
Moradores e rebeldes adiantaram ontem que aviões russos e sírios também levaram a cabo intensos bombardeamentos contra as áreas rurais de Aleppo ainda controladas pelos rebeldes. Os opositores do regime informaram ontem ter conseguido repelir um ataque de uma milícia apoiada pelo Irão, outros dos apoiantes de Bashar al-Assad, que pretendia ganhar terreno na área de Rashideen, a oeste de Aleppo.
Também a Turquia tem bombardeado, desde quinta-feira a cidade de Al-Bab, no Norte da Síria, controlada pelo Estado Islâmico. Segundo informações avançadas ontem pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos, já tinham morrido pelo menos 104 civis, incluindo 26 crianças e 13 mulheres.
De acordo com Ancara, estas ofensivas tiveram lugar depois de, na quarta-feira, 14 soldados terem sido mortos e 33 ficado feridos em ataques dos extremistas às tropas turcas que apoiam os rebeldes sírios, nas proximidades de Al-Bab. O ministro turco da Defesa, Fikri Isik, admitiu na sexta-feira que o Estado Islâmico tem prisioneiros três militares turcos.
Na sua tradicional mensagem de Natal, o Papa lançou ontem um apelo à paz "na martirizada Síria, onde já demasiado sangue foi derramado." Francisco referiu-se, em particular, a Aleppo "cenário nas últimas semanas de uma das batalhas mais atrozes", dizendo que é "urgente que, respeitando o direito humanitário, se assegurem assistência e conforto à população civil exausta, que se encontra ainda numa situação desesperada e de grande tribulação e miséria."
"É tempo que as armas se calem definitivamente e a comunidade internacional se empenhe ativamente para se alcançar uma solução negociada e restabelecer a convivência civil no país", sublinhou o líder católico.
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