Arguido diz "temer" Pereira Cristóvão porque "tem muita influência"

Pereira Cristóvão remeteu-se hoje ao silêncio no início do julgamento. Faltou um dos arguidos que está com pulseira eletrónica: "está incontatável há 48 horas"
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O antigo inspetor da Polícia Judiciária (PJ) Paulo Pereira Cristóvão remeteu-se hoje ao silêncio no início do julgamento do caso relacionado com assaltos violentos a residências, na zona de Lisboa e na margem sul do rio Tejo.

Pereira Cristóvão é arguido no processo conjuntamente com outras 17 pessoas.

À saída da Instância Central Criminal de Lisboa, no Campus da Justiça, o advogado do antigo inspetor da PJ, Paulo Farinha Alves, disse aguardar o resultado de um recurso que está no Supremo Tribunal de Justiça, com base numa questão processual que se prende com as competências do juiz de instrução criminal, e que, no limite, considera poder levar à anulação de quase todo o processo, incluindo a fase de instrução.

Além de Pereira Cristóvão, outros quatro arguidos optaram, para já, por não prestar declarações, enquanto 11 dos envolvidos, incluindo três polícias e o líder da claque leonina Juve Leo, conhecido por 'Mustafá', pretendem falar durante o julgamento.

Dois dos arguidos faltaram à primeira sessão, um dos quais, segundo a presidente do coletivo de juízes, Marisa Arnedo, encontra-se em prisão domiciliária com pulseira eletrónica, mas que "está incontatável há 48 horas", não se sabendo o seu paradeiro.

Durante a manhã, o tribunal ouviu um dos principais arguidos, que pediu para prestar declarações na ausência dos restantes envolvidos, alegando "temor" de Paulo Pereira Cristóvão, uma pessoa que "tem muita influência".

"A defesa requer, a pedido do arguido, que os restantes coarguidos sejam afastados da sala, porque o arguido sente temor e condicionalismo na presença dos restantes arguidos. E condicionará a espontaneidade do depoimento", disse a sua advogada, no requerimento apresentado, que foi aceite por todos os intervenientes.

Celso Augusto - que se encontra a cumprir uma pena de mais de sete anos de prisão por tráfico de droga, ao abrigo de outro processo - negou pertencer à alegada associação criminosa e a prática de qualquer tipo de crime neste caso.

O arguido relatou ter ficado amigo de Pereira Cristóvão em 2012, ano em que este era vice-presidente do Sporting, quando fez segurança num jogo da Liga Europa, em Alvalade.

Celso Augusto explicou que num almoço com o antigo inspetor da PJ e um empresário, este último disse que precisava de ajuda para a cobrança de uma dívida de 350.000 euros em dinheiro, num negócio que envolvia a venda de terrenos no Brasil.

O outro empresário que teria esta alegada dívida era amigo de Celso Augusto e é uma das vítimas de assalto, em Cascais, que terá rendido 100.000 euros, segundo a acusação.

Este arguido contou que, na ocasião, disse que nada podia fazer, pois estava preso em casa, com pulseira eletrónica, e afirmou que Pereira Cristóvão "se ofereceu" para cobrar aquele valor.

A partir desse momento, salientou, não teve mais nenhuma intervenção e só mais tarde é que soube que o tal empresário tinha sido assaltado.

"Não bebi, nem comi nada disto. Não roubei ninguém, nem ganhei nada com isto", afirmou, perante o coletivo de juízes.

O julgamento vai continuar esta tarde.

Segundo o MP, o antigo inspetor da PJ e também antigo vice-presidente do Sporting, dois outros arguidos e os três polícias recolhiam informações e decidiam quais as pessoas e locais a assaltar pelo grupo.

Depois, as informações eram transmitidas aos restantes elementos, que compunham a vertente operacional da alegada rede criminosa, refere a acusação.

Os 18 arguidos respondem por associação criminosa, roubo, sequestro, posse de arma proibida, abuso de poder, violação de domicílio por funcionário e falsificação de documento.

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