Arábia Saudita e aliados "querem sufocar liberdade de imprensa no mundo árabe"
Em declarações à Lusa, à margem da conferência "Liberdade de opinião: lidar com a ameaça", organizada pelo Comité de Direitos Humanos do Qatar e pela Federação Internacional de Jornalistas, em Doha, capital do Qatar, Mostefa Souag reconhece, porém, que essa atitude "é expectável" da parte de países onde "não há liberdade".
"Não podem aceitar que um vizinho, o Qatar, tenha uma instituição como a Al-Jazira, que é um bastião da liberdade de imprensa", frisa.
A 05 de junho, quatro países - Arábia Saudita, Bahrain, Emirados Árabes Unidos e Egito - romperam as relações diplomáticas com o Qatar, acusando o país vizinho de apoio ao terrorismo, desestabilização da região e aproximação ao Irão.
Entre as várias exigências que apresentaram para repor a normalidade das relações, e que o Qatar se tem recusado a cumprir, está o fecho da Al-Jazira.
Essa exigência desencadeou um movimento internacional em defesa da liberdade de expressão e de imprensa, que está na origem da conferência organizada em Doha, que terminará com uma manifestação de solidariedade dos delegados e participantes nas instalações da própria Al-Jazira, hoje à tarde.
Orador na conferência de dois dias que hoje termina, em Doha, o diretor geral da Al-Jazira Media Network e diretor executivo do Al-Jazira News Channel garante que "nada vai mudar" na estação.
"Vamos ficar, manter a nossa política editorial, nada mudou nem vai mudar", assegura Mostefa Souag, frisando que a empresa tem reagido "vigorosamente".
Até porque, sublinha, "o alvo não é a Al-Jazira, é a liberdade de imprensa e de média", que os quatro países árabes em questão "querem sufocar" na região.
Ou seja, a Al-Jazira, que emite desde 2006, com canais em árabe e inglês, acaba por ser um bode expiatório neste conflito político-diplomático: "Os países que estão a exigir o fecho da Al-Jazira têm uma posição firme contra a liberdade de expressão e de imprensa".
Mostefa Souag desvaloriza os que qualificam a Al-Jazira - palavra que significa "ilha", em árabe - como um órgão de comunicação parcial e tendencioso.
"Tentam encontrar qualquer coisa para atacar a Al-Jazira, mas, até agora, só usaram coisas fora de contexto, para nos acusar de distorcer. Nenhum desses países, ou outros, que nos acusam de má conduta apresentaram quaisquer provas", critica.
Mas a estação já está habituada a críticas. "Não houve um ano, desde a sua criação, sem protestos contra a Al-Jazira, para fechá-la, calá-la, impedi-la de trabalhar", lembra, citando uma lista de "perseguições" e "hostilidade" contra jornalistas e suas famílias.
Outra das críticas tem sido a cobertura que a estação faz do próprio Qatar, país que a acolhe e onde o argelino Mostefa Souag vive desde 2005, constatando uma "grande evolução" em termos de liberdade de imprensa e de média.
"Cobrimos os assuntos do Qatar que interessam ao nosso público, mas não somos uma televisão local e, por isso, não cobrimos assuntos locais, que, aliás, são cobertos pelas muitas televisões locais", distingue.
"Os erros acontecem, como em qualquer outro órgão de comunicação, mas, de cada vez que nos apercebemos, pedimos desculpa, explicamos porque aconteceu e tentamos que não volte a acontecer", realça.
"Assumindo que um por cento do que fazemos é um erro, e isso não é verdade, pode um por cento pôr em causa os outros 99?", questiona.
"Vamos continuar a ser um baluarte da liberdade de imprensa, inchallah [expressão com que os árabes terminam as frases sobre o futuro, que significa oxalá]", promete.