Aqui, Kiev. Até já

Enviado Pedro Cruz faz o relato, todos os dias, dos acontecimentos na zona do conflito.
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A cidade acordou com bombardeamentos em vários locais. Zonas residenciais, entradas do metropolitano, uma fábrica.

Durante a madrugada, a defesa antiaérea ucraniana disparou sem interrupção. As sirenes não tocaram mas, ainda assim, mísseis lançados de Irpin cruzaram os céus da capital e atingiram o destino. Kiev está cada vez mais fechada, isolada, deserta, vazia e escondida. Os militares e a defesa civil trancam as entradas, já só é possível sair pela nesga que os russos ainda não tomaram ou tentam tomar. Direção sul.

É o caminho de hoje. De Kiev a Lviv, onze horas de viagem, parte dela em estradas esburacadas e secundárias. Ao atravessar o miolo da Ucrânia, planícies a perder de vista e retas. Direitas, lineares, retas sem fim. O país que fica longe de todas as grandes cidades é rural, pobre, atamancado. Ainda assim, cada aldeia tem o seu check point, vigiado por agricultores que deixaram os cereais e a soja ao abandono e estão firmes no seu posto de vigia, de controlo, de serviço.

As barricadas vão ficando menos sofisticadas e mais permeáveis, os passaportes menos controlados, mas a determinação, a firmeza e convicção da luta pela liberdade tem o mesmo valor em qualquer lado.

Lá longe, Kiev ficou para trás. Isolada. A cidade prepara-se para resistir com tudo. Os que optaram por não sair da capital sabem que estão a arriscar a vida. O recolher obrigatório está em vigor desde esta terça-feira. Os russos vão intensificar os ataques nos próximos dias. Alvos civis, prédios onde vive gente comum, lugares onde se juntam pessoas que não gostam de estar sozinhas durante a noite.

Kiev vai dar luta. Não cairá sem combate. Não se renderá. Não se vergará. Pode ser atrasada, destruída, tomada, reclamada, mas nunca vergada nem vencida.

Hoje, está sol na capital.

Até já, Kiev.

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