Aprender a comer e fazer ginástica em grupo ajuda obesos a perder peso

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Combater o excesso de peso e a obesidade não tem de ser uma luta solitária. Cada vez mais os especialistas apostam no tratamento multidisciplinar e feito em grupo. Em vez de consultas individuais, fazem-se reuniões com vários doentes sobre como comer, fazer exercício físico, falar do que os levou a ganhar tanto peso e como ultrapassar os medos.

Em Espanha, há grupos que estão a ser avaliados há mais de um ano pelos hospitais. Os resultados deixam os médicos entusiasmados: alguns doentes perderam 10% do seu peso, sem medicação ou cirurgias. O Instituto de Investigação de Ciências da Saúde da Universidade das Ilha Baleares, no país vizinho, acompanha 180 obesos. "Passado um ano, o grupo terapêutico traduziu-se numa perda de peso de 10%, atrás dos 25% que resultam da cirurgia", disse ao El Mundo Barto Burguera, director do centro.

Por cá, a experiência com grupos terapêuticos é maior do que se pensa. E com resultados muito positivos. "Temos algumas experiências em vários hospitais do País, como o Santo António (Porto), o Egas Moniz ou Santa Maria (ambos em Lisboa). Mas há mais hospitais que trabalham com grupos terapêuticos. "Para muitos doentes é uma alternativa de grande valia", explica ao DN Maria João Fagundes, psicóloga do serviço de endocrinologia do Hospital de Santa Maria.

Uma ajuda preciosa para todos os que precisam de perder muitos quilos a bem da saúde: para os que aguardam uma operação e para quem essa possibilidade não existe. "Temos técnicos formados, condições nos hospitais e salas para receber os doentes. Temos excelentes resultados na preparação de cirurgias, mas podemos alargar para áreas como a educação alimentar ou o exercício físico", destaca Maria João Fagundes, referindo que em algumas das experiências nacionais estes temas estão a ser trabalhados.

Testado e aprovado, o tratamento em grupo é também uma mais-valia para o Serviço Nacional de Saúde (SNS). "É uma boa opção para o tratamento das perturbações do comportamento alimentar e na obesidade é um caminho a seguir. É também uma forma de o SNS ter uma boa capacidade de resposta em tempo útil para os doentes que nos procuram", afirma a médica.

Um argumento também usado pelos especialistas espanhóis, a braços com o número crescente de obesos

no país. Uma realidade semelhante à portuguesa, onde mais de metade de população têm já excesso de peso ou problemas de obesidade. Por isso, projectos como este vão sendo cada vez mais implementados também pelos grupos de auto-ajuda, formados por doentes que estão nas várias fases do processo de tratamento.

É o caso da Afago, associação que funciona nas instalações do Hospital de Santa Maria. "É um local de partilha de experiências, onde falamos da situação de cada um e do que nos levou a este problema, onde sentimos que não somos únicos", diz Maria Fernanda Cabral, 59 anos, membro da Afago. Actualmente com 112 quilos e à espera da cirurgia, aprende e ensina aos outros os desafios que os esperam.

"As reuniões terapêuticas contam com a presença das psicólogas do serviço de endocrinologia. Temos uma cooperação com a Universidade Lusíada. Vêm-nos buscar para fazermos exercício direccionado para o problema", diz, referindo que têm "recebido pedidos de informação de profissionais sobre reuniões de doentes".

Alain Guerreiro, 46 anos, está próximo de trazer para Portugal um novo conceito: os comedores compulsivos anónimos (CCA). Hoje tem 135 quilos, mas chegou a pesar 268 quilos. "Quero apoiar aqueles que não têm dinheiro. É um projecto que já existe no Brasil e noutros países e que aceita todas as pessoas", diz, explicando que funciona como outros grupos anónimos, com uma lista de 12 passos para seguir.

O fundamental, afirma, "é aceitar que é gordo e que quer mudar por si". "O fundamental é o mental, e é isso que o CCA ajuda a perceber. Temos madrinhas e padrinhos a quem podem ligar quando tiverem vontade de fazer uma razia ao frigorífico, e já temos uma médica e uma enfermeira que querem integrar o grupo", revela.

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