Apple não vai obedecer a ordem para desbloquear iPhone de terrorista
Tim Cook, o presidente executivo da Apple, revelou esta quarta-feira que a companhia não vai obedecer à ordem de uma juíza norte-americana, que pediu à Apple que auxiliasse o FBI a aceder aos dados no iPhone de um dos terroristas do tiroteio de San Bernardino. No massacre, que ocorreu no passado mês de dezembro, morreram 14 pessoas. O Estado Islâmico reivindicou o ataque, garantindo que Syed Rizwan Farook, de 28 anos e nacionalidade norte-americana, e a sua mulher, Tashfeen Malik, de 29 anos e nascida no Paquistão, os autores do tiroteio, eram seguidores do grupo terrorista.
Cook escreveu um extenso comunicado para explicar que a ordem da magistrada Sheri Pym ameaça a segurança e a privacidade dos clientes da Apple e tem "implicações que vão para além do caso legal em questão".
Na terça-feira, a magistrada do tribunal de Los Angeles declarou que a Apple deveria fornecer "assistência técnica" aos investigadores que estão a tentar aceder aos dados guardados no iPhone 5C de Syed Farook. Numa carta aos clientes da Apple, Tim Cook escreve que o FBI pediu à empresa para construir uma "porta das traseiras para entrar no Iphone".
"O governo está a pedir à Apple para piratear os nossos próprios utilizadores e minar décadas de avanços de segurança para proteger os nossos clientes - incluindo dezenas de milhares de cidadãos americanos - de 'hackers' sofisticados e cibercriminosos", afirma Cook. "Não encontramos precedente de uma empresa americana ser forçada a expor os seus clientes a um risco maior de ataque", critica.
[citacao:Pedem-nos para fazer algo que não temos, e que consideramos demasiado perigoso criar]
Na declaração, colocada no site da Apple, Cook refere que a companhia ficou "chocada" com o ato mortífero de terrorismo em San Bernardino e garante que quer justiça para todos os que foram afetados, detalhando que nos dias que se seguiram ao ataque colaborou com as autoridades, tendo fornecido toda a informação na sua posse. Os engenheiros da Apple disponibilizaram-se a auxiliar o FBI e ofereceram as suas "melhores ideias" para uma série de opções de investigação. "Pedem-nos para fazer algo que não temos, e que consideramos demasiado perigoso criar", sublinha o presidente executivo da Apple, referindo-se à "porta das traseiras" para aceder ao iPhone.
[artigo:5033660]
"Especificamente, o FBI quer que construamos uma nova versão do sistema operativo do iPhone, contornando importantes ferramentas de segurança, e que o instalemos num iPhone recuperado durante a investigação. Nas mãos erradas, este software - que hoje não existe - teria o potencial para desbloquear qualquer iPhone".
Cook acrescenta ainda que, apesar de as autoridades garantirem que este software serviria apenas para este caso, não existe garantia de controlo. "Uma vez criada, a técnica poderia ser usada vezes sem conta, num sem número de dispositivos. No mundo físico, seria equivalente a uma chave mestra, capaz de abrir centenas de milhões de fechaduras - de restaurantes a bancos, lojas e casas".
O CEO da Apple conclui a declaração admitindo que irá desafiar a exigência do FBI com o maior respeito pela democracia americana e amor pelo país. "Ainda que acreditemos que são boas as intenções do FBI, seria errado para o governo forçar-nos a construir uma porta das traseiras para os nossos produtos. E, no limite, receamos que esta exigência possa minar as liberdades que o nosso governo tem o objetivo de proteger".
[artigo:4914682]