Aos 60 dias de invasão, Zelensky diz que só quem a iniciou a pode parar
A horas de se atingir os 60 dias da invasão russa anunciada por Vladimir Putin como "operação militar especial", o presidente ucraniano protagonizou uma conferência de imprensa na estação de metro de Kiev, na qual voltou a pedir uma reunião com o homólogo russo para pôr fim à guerra. Mas as perspetivas de paz - ou, pelo menos, de uma trégua na Páscoa ortodoxa - parecem longínquas, com Moscovo a continuar a atacar civis, desta vez também em Odessa.
Volodymyr Zelensky voltou a fazer um apelo direto a Vladimir Putin para que se realize um encontro entre ambos, apesar de dizer que não tem qualquer confiança na Rússia nem qualquer motivação pessoal para a reunião. "Penso que quem quer que tenha iniciado esta guerra poderá pôr-lhe termo", disse. No entanto, advertiu o Kremlin de que não há condições para negociar se os restantes soldados ucranianos sitiados na siderurgia de Mariupol forem mortos, tal como não admite que se organizem "pseudo-referendos" na região de Kherson.
Num momento menos diplomático, Zelensky criticou os planos do secretário-geral da ONU, por António Guterres ir visitar Moscovo na terça-feira, antes de Kiev, onde irá na quinta-feira. "É simplesmente errado ir primeiro à Rússia e depois à Ucrânia. Não há justiça e não há lógica nesta ordem", lamentou. Para Zelensky, Guterres deveria ver primeiro as consequências da guerra.
O chefe de Estado ucraniano revelou aos jornalistas que, enquanto aguarda a visita de Joe Biden, recebe neste domingo a visita de dois membros do governo norte-americano, o secretário de Estado Antony Blinken e o secretário da Defesa Lloyd Austin, para discutir "a assistência militar" de que a Ucrânia necessita. Esta reunião acontece um dia depois de o seu primeiro-ministro Denys Shmyhal ter concluído uma visita a Washington, onde foi recebido por Austin, mas também pelo presidente Joe Biden, e onde também participou numa reunião conjunta do FMI e Banco Mundial sobre um plano de reconstrução e recuperação do país.
Lloyd Austin convidou dirigentes de 40 países aliados para participarem numa reunião, na terça-feira, na base militar de Rammstein, na Alemanha, para se discutir os cenários da guerra e concertar esforços de ajuda a Kiev. No sábado, o primeiro-ministro britânico voltou a falar com Zelensky, tendo sido abordada a questão de nova ajuda militar e financeira. De acordo com o comunicado Kiev irá receber mais veículos blindados, drones e armas antitanque.
Segundo o The Times, depois de Londres ter enviado mísseis Starstreak, que têm a capacidade de atingir aviões e helicópteros, é a vez de seguirem os veículos blindados com lançadores para os referidos mísseis (que também podem ser disparados por soldados). Na véspera, Boris Johnson disse que o seu país estava a analisar o envio de tanques para a Polónia, de forma a que Varsóvia envie os seus, de fabrico soviético, para a Ucrânia. Também o Canadá anunciou o envio de artilharia pesada, o obus M777, num número não especificado.
No seu discurso diário, na sexta-feira à noite, Zelensky mostrou-se satisfeito pelas entregas de equipamento militar pelos aliados, tendo comentado que tal ajudaria a salvar milhares de vidas. "Estou grato aos nossos parceiros que finalmente nos ouviram", afirmou. Na mesma alocução, o líder ucraniano comentou as declarações do general russo de que as forças russas querem tomar não só o Donbass, mas também todo o sul do país, para ligar à Transnístria. "Isto só confirma o que já disse muitas vezes. A invasão russa da Ucrânia foi concebida apenas como o início, depois eles querem conquistar outros países."
Enquanto os parceiros ucranianos tentam fornecer armas para estes repelirem o invasor, Moscovo tenta destruí-las. O Ministério da Defesa da Rússia diz ter destruído um depósito de armas em Odessa, no sul do país. "As forças armadas russas desativaram hoje com mísseis de alta precisão e de longo alcance um terminal logístico no aeródromo militar perto de Odessa, onde foi armazenado um grande lote de armas estrangeiras entregues pelos Estados Unidos e países europeus", afirmou, no mesmo comunicado em que disse terem morto mais de 200 soldados ucranianos e destruído dezenas de veículos.
Ficou por esclarecer se o ataque a uma zona residencial de Odessa, que matou pelo menos oito pessoas, incluindo um bebé, também foi realizado com "mísseis de alta precisão".
Em sentido oposto, o exército ucraniano disse ter destruído um posto de comando russo na região de Kherson, sob controlo russo desde os primeiros dias da guerra. Segundo Oleksiy Arestovych, antigo oficial dos serviços secretos e atual conselheiro de Zelensky, cerca de 50 oficiais russos se encontravam-se no centro de comando na altura do ataque, tendo morrido dois generais e um terceiro ficado ferido.