Aos 20, celebra-se o fim da adolescência. E a vida é o que fazemos dela
É uma foto destes tempos: dois jovens estendidos no chão beijam-se, com um polícia em primeiro plano e, ao fundo, o caos instalado nas ruas de Vancouver. Scott contou que procurou acalmar a namorada, Alexandra, com o beijo, depois de os dois terem tropeçado numa fuga precipitada da multidão e a polícia lhes ter batido - estávamos em 2011.
Cinco anos depois, os Placebo fizeram desta imagem a sua capa da coletânea A Place for Us to Dream, com que festejam os 20 anos do seu primeiro álbum homónimo, de 1996. Este lugar para sonharmos anda desde outubro último pelos palcos europeus e chega hoje ao Pavilhão Multiusos de Gondomar e amanhã ao Coliseu dos Recreios em Lisboa.
A avaliar pelos alinhamentos dos concertos mais recentes, pode esperar-se uma entrada em palco com dois momentos de Without You I"m Nothing, o segundo disco de originais da banda e que a Pitchfork incluiu na lista dos 50 melhores álbuns da britpop. Every You Every Me será projetado nos ecrãs e Pure Morning já contará com Brian Molko e Stefan Olsdal no palco para uma noite em que se espera mais de uma vintena de canções, encores incluídos, entre originais e algumas surpresas - a banda tem fechado os concertos com a sua versão contida de Running up That Hill (A Deal with God), o tema de Kate Bush, e tem interpretado Without You I"m Nothing, com David Bowie (que canta no original) a visitar-nos nos ecrãs.
No palco, garante Stefan Olsdal, as coisas têm corrido bem. "Eu penso que nos aproximámos mais um pouco de um estilo festivo do que em digressões anteriores porque, afinal, sempre é o nosso 20.º aniversário, e em vez de sairmos e de tocarmos com má vontade velhas canções de que não gostamos, preferimos ter uma abordagem que foi a de "vamos celebrar o nosso passado e vamos aceitar aquilo que nos fez o que somos hoje e nos trouxe até aqui hoje"", confessou o guitarrista-baixista num concerto na Alemanha ao jornal britânico Yorkshire Evening Post. "Chegámos a um acordo com o passado: celebrá-lo e estar gratos pelo que temos, basicamente."
Nestes 20 anos, Stefan reconhece que têm tido "alguns espetáculos, algumas colaborações e alguns momentos", mas que o melhor é manterem as suas armas e não seguir caminhos demasiado rápidos. Afinal, "também vivemos períodos em que estávamos realmente fora de moda e não podemos deixar que isso nos afete".
Para Brian Molko e Stefan Olsdal, o importante foi "fazer o que parecia certo e cumprir a sua própria visão". "Se fizermos isto durante um tempo suficiente, como que crias o teu próprio mundo. Até porque, se andares por aqui muito tempo, as pessoas também não te podem ignorar."
A banda não tem sido ignorada, regista Stefan. Ao longo destes 20 anos tiveram os seus momentos, como a primeira vez em que tocaram na Brixton Academy, em Londres, ou quando colaboraram com alguns dos seus "heróis", como lhes chama Stefan, de Frank Black a Robert Smith e David Bowie. Ou quando tocaram nos templos de Angkor Wat, no Camboja - "nós fomos a primeira banda de rock a fazê-lo". "Posso sentar-me e conversar sobre isto durante um bom bocado."
Na compilação, os Placebo incluíram ainda um inédito, Jesus" Son, que agora têm levado aos concertos, um tema que assenta como uma luva no longo percurso de uma banda desde sempre arrumada nas categorias do rock independente e da britpop. "And I am unafraid and blissful, here I come/I am unashamed at getting nothing done", canta Brian na canção.
De fora tem ficado Life"s what You Make It, a canção inscrita no panteão dos Talk Talk, registada num EP homónimo com temas que lançaram recentemente para ajudar na festa dos 20 anos. Mas aos 20 anos deixa-se a adolescência para trás - e festeja-se o que fazemos da vida.
Antes de iniciarem esta digressão dos 20 anos, os Placebo fizeram uma pequena homenagem a Leonard Cohen e Stefan Olsdal e Brian Molko olharam um para o outro e disseram-se: "Ainda nos temos um ao outro e ainda estamos a fazer isto. Somos abençoados com o que temos."