"Ao contrário de Costa e Seguro, o debate no PSD tem tido elevação"

O vice-presidente do PSD diz que Rui Rio tem uma "personalidade obsessiva" e Santana Lopes foi vítima de uma caricatura injusta
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Como está a correr o debate para a liderança do PSD?

No plano político-partidário posso dizer três coisas muito simples. Primeiro, eu comuniquei que acompanharia Passos Coelho na sua saída e que não me envolveria na disputa eleitoral nem aceitaria vir a integrar órgãos executivos do partido nos próximos anos. Ambos os militantes que se candidatam à liderança do PSD têm estatura política, intelectual, moral e ética para liderarem o partido e o país. A partir do dia 13 de janeiro deixa de haver duas candidaturas, passará a haver apenas um presidente e um partido. Em segundo lugar, quero salientar que o debate a que tenho assistido é um debate que, comparado com aquilo que vimos entre António Costa e António José Seguro, tem sido marcado por uma enorme elevação entre as duas candidaturas. Facto que me deixa bastante satisfeito e orgulhoso enquanto militante do PSD. Em terceiro lugar, julgo que entrámos numa fase do processo político que se exigiria um debate nas televisões entre os candidatos, para que os portugueses tenham uma noção mais aprofundada do pensamento de cada um sobre o país. Até às eleições importa falar menos de questões internas e mais sobre os problemas do país. Acho que poderemos vir a beneficiar muito do debate interno do PSD se começar a tratar temas de governação e temas nacionais.

Quais seriam os grandes temas?

O debate sobre as reformas das funções sociais do Estado, sobre as matérias da reforma das áreas de soberania, o debate sobre os grandes compromissos que devem ser assegurados para o futuro quanto à reforma do próprio Estado. O Dr. António Costa disse que era indispensável um consenso em volta das futuras grandes obras públicas, porque se trata de despesa com impacto ao longo de várias legislaturas. Ora, quando se fala do aumento da despesa do Estado era importante que houvesse um grande consenso entre as forças políticas portuguesas, porque a despesa não se repercute apenas num ano, ela fica e perdura, e por norma até evolui de forma crescente. Se há áreas em que de facto é preciso haver enormes consensos é quando se acrescenta de forma estruturada despesa ao Estado. Seja em matérias salariais, seja em matérias de direitos sociais, seja em matérias de obras públicas.

Santana Lopes e Rui Rio conseguirão convencer melhor António Costa do que Passos Coelho em relação a esses consensos?

Ambos beneficiam de uma circunstância nova: é que o grande cimento agregador da coligação que suporta o governo era uma coligação negativa, anti-Pedro Passos Coelho. A sua saída da liderança do PSD começa já a evidenciar, pelos últimos acontecimentos, que esse cimento começa a revelar fragilidades.

Já percebi que não vai tomar posição sobre os candidatos, mas pode dizer-me, pelo menos, quais os prós e contras de Rio e Santana?

Pedro Santana Lopes tem contra ele a circunstância de todo um conjunto de episódios, que lhe são imputados de forma injusta e que não corresponderam à verdade dos factos, relativamente à sua passagem pelo governo como primeiro-ministro, que naturalmente o prejudicam. Hoje os portugueses percebem que o homem que se candidata à liderança do PSD é alguém que nada tem que ver com aquele retrato caricaturado que tentaram traçar dele. Essa é uma fragilidade, mas também que se transforma num fator de força porque se sabe que a verdade é que este homem, que foi provedor da Santa Casa, desempenhou sempre com grande sentido de responsabilidade as suas missões públicas. Do lado de Rui Rio, o que lhe é apontado como maior fragilidade é a sua personalidade obsessiva em algumas matérias, mas é uma característica que pode vir a revelar-se essencial para um país que precisa de rumo e de um primeiro-ministro determinado. Para um chefe de governo que anda aos ziguezagues já estamos servidos. Foi sempre um homem de Estado irrepreensível, que tem uma devoção à causa pública.

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